Desde a eleição do republicano Donald Trump, "normalizar" virou o verbo da moda. De um lado, muitos se esforçam em dizer que Trump é histriônico, mas vai sentir o peso de liderar a maior economia do mundo e, na hora de governar, será um presidente "normal". Por exemplo, a nomeação de Mitt Romney como secretário de Estado (em vez de Rudy Giuliani, também cotado) ajudaria a "normalizar" Trump.
Outros (muitos) advertem: não se pode normalizar Trump!
David Remnick, editor da revista New Yorker e ícone da mídia de esquerda, afirmou em artigo recente: "a fantasia da normalização de Donald Trump —a ideia de que um candidato demagógico iria de alguma maneira se transformar após o dia da eleição em um estadista que preza o equilíbrio— deveria ser agora uma memória distante, uma ilusão desfeita".
Remnick segue listando muitas frases e atitudes anormais do presidente eleito: atacar pelo Twitter o elenco da peça "Hamilton", nomear como estrategista-chefe alguém ligado a movimentos supremacistas (Stephen Bannon), reclamar com donos de veículos de mídia que apareceu com queixo duplo em uma foto.
O líder da minoria democrata no Senado, Harry Reid, divulgou um comunicado advertindo contra a "normalização de um homem que ameaçou separar famílias, vangloriou-se de ter atacado mulheres sexualmente, e instruiu multidões a intimidarem repórteres e negros".
Na revista do "New York Times", o escritor Teju Cole falou sobre "os sinais inconfundíveis da normalização em curso".
Nos Estados Unidos, normalizar virou sinônimo de tolerar, aceitar; passar a ver como normal algo que era anteriormente encarado como anormal. E para os opositores de Trump, é preciso resistir a essa normalização.
Na nossa língua portuguesa, segundo o Houaiss, normalizar significa: "fazer voltar ou voltar ao estado normal, à ordem; regularizar(-se)" ou estabelecer norma(s) para: normatizar, padronizar, uniformizar".
E aqui no Brasil, a normalização também é uma praga.
No momento, está em curso uma tentativa de "normalização" do episódio em que o presidente Michel Temer pressionou então ministro da Cultura Marcelo Calero para garantir que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) não ia estragar um bom negócio do também então-ministro Geddel Vieira Lima.
Hoje de manhã, em entrevista à CBN, o deputado Paulinho da Força começou a dizer ora ora, todo mundo pede favor de vez em quando. O ministro do Supremo Gilmar Mendes saiu-se com outra pérola —era um flat em um bairro longínquo de Salvador, temos problemas muito mais graves que esse.
Não, caro leitor, nada disso é normal.