Folha de S. Paulo


Trump vai cair atirando e deixará terra arrasada para Hillary administrar

Ao admitir a derrota para Barack Obama na eleição de 2008, o senador republicano John McCain começou seu discurso com as seguintes palavras: "O povo americano falou de forma clara. Há poucos instantes, eu tive a honra de ligar para o senador Obama para parabenizá-lo. Parabenizá-lo por ter sido eleito o próximo presidente do país que nós dois amamos."

Diante de vaias de seus apoiadores, Mc Cain pediu respeito:

"Por favor".

E continuou: "O senador Obama e eu tivemos nossas divergências e ele prevaleceu. Muitas dessas divergências permanecem. São tempos difíceis para o nosso país. E eu prometo a Obama fazer tudo o que eu puder para ajudá-lo a nos liderar e enfrentar os desafios que temos pela frente. Eu exorto todos os americanos que me apoiaram não apenas a parabenizar Obama, mas a oferecer ao nosso próximo presidente nossa boa vontade e esforços sinceros para achar maneiras de superar nossas diferenças."

O senador republicano encerrou: "Essa campanha foi e sempre será a grande honra da minha vida, e estou muito grato ao povo americano por ter me ouvido de forma justa antes de decidir que o senador Obama e meu velho amigo senador Joe Biden deveriam ter a honra de nos liderar nos próximos quatro anos."

Qual é a chance de o candidato Donald Trump falar qualquer coisa semelhante? No debate com sua oponente Hillary Clinton na noite de quarta, e em seguidos comícios, Trump vem semeando a discórdia e incitando seus apoiadores a não aceitarem o resultado da eleição.

Ele nem sequer afirma que irá aceitar o resultado da eleição.

Diz que o pleito é "marmelada", que a mídia corrupta está alinhada a Hillary, que muitos eleitores que deveriam ser impedidos de votar irão às urnas e que a democrata deveria ser proibida de concorrer.

E insta seus apoiadores a atuarem como "fiscais eleitorais" informais. Se muitos trumpistas ouvirem seu inspirador, imagine o que irá ocorrer nas seções eleitorais americanas no dia 8 de novembro? No mínimo, intimidação.

Trump fala muito em fraude eleitoral, mas a verdade é que, desde a famosa recontagem da eleição Bush-Gore de 2000, houve poucos incidentes no processo americano. O que há, isso sim, é supressão eleitoral. Eleitores são impedidos de votar por não terem o documento certo, ou não terem se registrado a tempo, ou alguma outra burocracia. Cada estado tem suas próprias regras, que variam muito. Normalmente, eleitores de minorias são os mais afetados pela supressão de votos, porque têm menos acesso a informação. E esses eleitores são cativos do partido democrata.

Nunca antes um candidato disse que uma eleição tinha sido roubada antes mesmo de a eleição ocorrer.

A atitude de Trump nos remete ao Estado Islâmico que ele tanto diz que irá combater de forma eficiente. Ao bater em retirada (como deve ocorrer em Mossul), os extremistas do Estado Islâmico sempre deixam para trás várias bombas e minas para que, quando soldados entrarem para liberar o terreno, haja muitas mortes e destruição.

Sentindo que vai perder, Trump está deixando como rastro um campo minado, que vai causar destruição na democracia dos EUA depois de 8 de novembro.


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