Folha de S. Paulo


Olimpíada não tem comida, não tem transporte, mas tem Lohaynny

Eduardo Knapp/Folhapress
Lohaynny Vicente enfrenta Sainda Nehwal, da Índia, no torneio olímpico de badminton da Rio-2016
Lohaynny Vicente enfrenta Sainda Nehwal, da Índia, no torneio olímpico de badminton da Rio-2016

Bruce Southwick é um fotógrafo de Fiji que veio para o Rio só para cobrir a seleção do seu país no rúgbi. Southwick está hospedado em Botafogo. Os jogos de rúgbi se realizam no centro olímpico de Deodoro. Ele gasta cinco horas todos os dias para ir e voltar até lá. São três ônibus diferentes e um metrô. Cinco horas.

O casal de australianos Ross Ibell, 75, e Patricia, 71, veio da Austrália para acompanhar o hóquei na grama. São fissurados e estão assistindo a todos os jogos. No sábado (6), primeiro dia de jogos, eles passaram fome para ver suas equipes favoritas. Nenhuma das lojas de alimentação no estádio de hóquei estava aberta e eles ficaram em jejum das 10h às 23h.

Chamada - Rio 2016

No dia seguinte, as lojas abriram. Mas às 15h, tinha acabado tudo. Só sobrou sanduíche de linguiça.

Alimentação e transporte são os maiores problemas da Olimpíada no Rio. Chegar até os locais das competições é difícil e demorado. Turistas estrangeiros sofrem mais ainda, porque pouquíssima gente fala inglês, e quem sabe o idioma, não sabe dar informação.

Comida é outro drama. A logística das barracas de alimentação é péssima —os produtos acabam e não são repostos. Os preços são ofensivos: uma garrafa pequena de Coca Cola custa R$ 10.

Falta comida e falta transporte na Rio 2016.

Mas tem Lohaynny.

Nesta quinta-feira (11), mais de 300 pessoas, a maioria da favela da Chacrinha, foi ao Riocentro para se orgulhar de Lohaynny Vicente, 20, o fenômeno do badminton.

Lohaynny teve infância dura. Seu pai era traficante no morro do Chapadão e foi morto pela polícia quando ela tinha 4 anos. Ela aprendeu a jogar no projeto Miratus, na favela da Chacrinha, que forma dezenas de atletas de badminton.

"O dia de hoje representa todo meu esforço: valeu a pena treinar descalça, sem raquete e sem peteca boa. Às vezes eu pensava em desistir, mas lutei pelo meu sonho e consegui, este momento vai ficar sempre na minha memória", disse Lohaynny após o jogo.

Ela enfrentou a indiana Saina Nehwal, 26, que é a número 3 do mundo. Lohaynny é número 70. Mas fez bonito. Marcou 34 pontos (em dois sets) contra uma das melhores do mundo. A cada lance, o público vibrava: "Eu acredito".

Lohaynny perdeu, mas isso não tinha a menor importância.

Quando acabou o jogo, os brasileiros nas arquibancadas continuaram de pé, aplaudindo, e gritando: "Lohaynny! Brasil!"


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