Folha de S. Paulo


2016 deve ser o ano mais letal para os refugiados

Petros Giannakouris/Associated Press
Refugiados chegam à ilha grega de Lesbos, após fazerem travessia de barco pelo mar Egeu
Refugiados chegam à ilha grega de Lesbos após fazerem travessia de barco pelo mar Egeu

No jogo de "whack-a-mole", o jogador precisa bater com um martelo na marmota de brinquedo toda vez que ela aparece em um dos buracos. Mas a marmota é teimosa: quando você acha que se livrou dela, lá vem o bicho de novo, emergindo de outro buraco.

Tal qual um iludido jogador de "whack-a-mole", a União Europeia achou que tinha resolvido o problema dos refugiados que inundam suas fronteiras. Em março, fechou o acordo de "um entra, um sai" com o autocrata turco Recep Tayyip Erdogan: para cada sírio devolvido pela Grécia à Turquia, a UE se comprometia a receber um sírio que estivesse esperando na Turquia.

Em troca, a Europa fechou os olhos para as arbitrariedades de Erdogan e prometeu 6 bilhões de euros para o governo turco.

Depois do acordo, o fluxo de refugiados da Turquia para a Grécia praticamente secou. A média de 2.248 pessoas chegando por dia à Grécia em janeiro caiu para 60 em julho, segundo dados da Organização Internacional para Migrações (IOM, na sigla em inglês). Nesta rota, a maioria dos refugiados são sírios, iraquianos e afegãos.

Mas o pacto criou outros problemas. Os refugiados agora se acumulam na fronteira da Síria com a Turquia, país que já tem mais de 2 milhões de sírios, a maioria vivendo em campos insalubres, sem acesso a assistência médica ou ao mercado de trabalho. Outros migrantes estão encalhados na Grécia, porque não conseguem prosseguir rumo ao norte da Europa e não têm dinheiro para voltar para a Turquia. Desde o acordo com a UE, o número de refugiados apinhados em campos na Grécia subiu 34%, chegando a 57.182.

Na outra rota, da Líbia para a Itália, a situação é ainda pior. A média de 176 migrantes chegando por dia em janeiro subiu para 698, um aumento de quase 400%.

Só neste mês, 122 pessoas morreram afogadas tentando cruzar da Líbia até Lampedusa.

Para a Itália, vão principalmente refugiados da Nigéria, que sofrem com a pobreza e o Boko Haram, milícia extremista que declarou lealdade ao Estado Islâmico e se notabilizou ao sequestrar meninas e transformá-las em mulheres-bomba. Chegam também migrantes do Níger, Sudão, Gana, Guiné, Senegal, Costa do Marfim, Somália e Mali.

O ano de 2016 se encaminha para ser o mais letal para os refugiados que querem chegar à Europa – neste ano, já morreram 3.034 (2.606 vindos da Líbia). No ano passado, no mesmo período, 1.917 haviam morrido.

Não adianta barrar a entrada dos imigrantes ou devolvê-los para a Turquia ou Líbia se não forem resolvidos os conflitos e a pobreza na Síria, Nigéria, Sudão, Iraque e Afeganistão.

A marmota sempre vai reaparecer em outro buraco.


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