Por trás da guinada anunciada pelo novo chanceler José Serra no Itamaraty está o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda no governo Itamar Franco (1992-94).
Ricupero, 79, não deve ter cargo na gestão Serra. Mas é figura frequentemente ouvida pelo chanceler, e seus "discípulos" devem assumir postos de destaque.
Eduardo Knapp - 8.mai.2015/Folhapress | ||
O ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador nos EUA Rubens Ricupero, em entrevista à Folha em 2015 |
O ex-embaixador foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) de 1995 a 2004. Antes, foi Embaixador do Brasil em Washington (1991-1993).
"O embaixador Ricupero é mentor de uma geração de talentosos diplomatas que chega em boa hora aos postos de comando do Itamaraty para renovar a instituição, fragilizada em anos recentes", diz Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute do Wilson Center, que conviveu com Ricupero em Washington.
"Há anos ele é amigo e conselheiro de Serra, que tem por ele respeito como grande intelectual e historiador de nossa diplomacia."
Entre os discípulos de Ricupero estão Marcos Galvão, representante do país na OMC (Organização Mundial do Comércio), e Sergio Danese, que deixará a secretaria-geral do Itamaraty para assumir a embaixada brasileira em Buenos Aires.
Na nova organização em estudo para ministério, pode haver dois secretários-gerais. Entre os cotados estão Galvão e Roberto Jaguaribe, embaixador na China, que trabalhou com Serra quando este era ministro do Planejamento.
Outro integrante de círculos tucanos, o embaixador Sergio Amaral pode assumir a embaixada em Washington.
O assunto é tratado com discrição para não atrapalhar o processo de agrément, segundo o qual o país que recebe o embaixador precisa aceitá-lo formalmente. Amaral foi ministro do Desenvolvimento e porta-voz da Presidência sob Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Muitas das ideias de Ricupero estavam presentes no discurso de posse de Serra, na quarta-feira (18) e devem fazer parte das novas metas do Itamaraty. Ricupero é defensor de uma posição mais audaciosa do Brasil nas negociações do clima, por exemplo. Propõe que o país veja a floresta e a biodiversidade como ativos econômicos e diplomáticos.
Já a chamada flexibilização do Mercosul —transformação do bloco em área de livre comércio, em vez de união aduaneira, o que deixaria o Brasil livre para negociar acordos sem chancela dos outros membros— não é defendida pelo ex-embaixador.
Em entrevista à Folha neste mês, afirmou: "Não se sabe se transformar o Mercosul em área de livre comercio traria benefícios, e a Argentina agora tem um presidente, Mauricio Macri, que não seria obstáculo a negociações".
Não se sabe que linha será adotada por Serra. Falando a jornalistas na quinta (19), o chanceler afirmou: "Temos que procurar formas de flexibilizar o Mercosul para que possamos fazer acordos bilaterais com outros países do mundo. Na forma que está hoje, isso se torna difícil."
Em artigo para a Folha em maio de 2014, Ricupero defendia que a relação com o México fosse prioridade. E concluía: "O importante é perceber que entre o maior latino-americano da Aliança do Pacífico e o maior do Mercosul deve haver coordenação em benefício mútuo."
No discurso de posse, Serra ressaltou a importância de "continuar a construir pontes, em vez de aprofundar diferenças, em relação à Aliança para o Pacifico". "Em relação ao México, será prioritário aproveitar o enorme potencial de complementaridade entre nossas economias."
Há incertezas, mas empresários e centros de estudo estão otimistas. "Serra dá novo ritmo à diplomacia. Ele está montando um time exemplar para retomar uma agenda positiva", diz Julia Dias Leite, diretora-executiva do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais)