Folha de S. Paulo


A política externa islamofóbica de Ted Cruz

Darren Hauck/Getty Images/AFP
O pré-candidato republicano Ted Cruz participa de um evento destinado às mulheres em Wisconsin
O pré-candidato republicano Ted Cruz participa de um evento destinado às mulheres em Wisconsin

Em política externa americana, nada pode ser pior do que Donald Trump, o presidenciável republicano que chegou a propor um veto à entrada de muçulmanos no país.

A não ser, claro, o senador Ted Cruz, que se consolida como a opção do establishment republicano para impedir que o maluco do Trump se torne o candidato do partido à Presidência.

Um dos principais assessores de Cruz para política externa é Frank Gaffney, que ficou "famoso" ao afirmar que Barack Obama seria o primeiro presidente muçulmano dos Estados Unidos.

Em artigo para o jornal conservador "Washington Times", Gaffney justificava suas desconfianças: no famoso discurso do Cairo, Obama se referiu ao Corão quatro vezes como "o Sagrado Corão", e só muçulmanos fazem isso.

Gaffney está por trás de uma série de projetos de lei nos EUA para proibir a instituição da sharia, a lei islâmica, no país. Um perigo iminente, claro. E combate ativamente a "infiltração de muçulmanos enrustidos no governo americano".

Ele é apontado como "um dos maiores extremistas islamofóbicos" dos EUA pelo Southern Poverty Law Center, que monitora grupos radicais no país.

Ah, e saiu do "think tank" de Gaffney a questionável pesquisa que embasou a proposta de Trump de veto total à entrada de muçulmanos.

Não que Cruz, sem a influência nefasta de Gaffney, pregasse a tolerância e inclusão dos muçulmanos para combater o extremismo. O senador defendeu recentemente o estabelecimento de patrulhas constantes em bairros americanos onde vivem muitos muçulmanos.

Uma de suas assessoras esclarece —assim como há equipes policiais especializadas em drogas, gangues, tráfico de pessoas e crime organizado, é necessário ter policiais setoristas de "terrorismo islâmico".

Antes disso, o senador apresentou projetos de lei propondo veto à entrada de refugiados provenientes de países com forte presença do Estado Islâmico ou da Al Qaeda. Cruz defendeu sua escolha. "Frank Gaffney é um pensador sério, focado em lutar contra jihadistas ao redor do globo", disse.

Na equipe de política externa de Cruz há TRÊS outras pessoas que trabalham com Gaffney no think tank dele, o Center for Security Policy. E também o ex-vice-secretário de Justiça Andrew McCarthy, autor do livro: "A grande Jihad: como o Islã e a Esquerda sabotaram a América",

Diante do último atentado do EI na Europa —homens-bomba no aeroporto e metrô de Bruxelas causaram a morte de 32 pessoas— seria razoável supor que os presidenciáveis americanos e o povo americano estejam pensando em uma mudança na estratégia de "combate" ao extremismo.

Mas uma pesquisa divulgada esta semana mostra que, infelizmente, Cruz e Trump apenas refletem a islamofobia de boa parte dos eleitores. Segundo a pesquisa da YouGov/Huffington Post, 51% dos americanos apoiam o veto à entrada de muçulmanos no país e 45% acreditam que deve haver patrulhamento ostensivo em bairros com muitos moradores muçulmanos.


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