Folha de S. Paulo


Brasil e EUA, sem bode na sala

O bode saiu da sala. Finalmente, depois de dois anos paralisadas, as relações entre Brasil e Estados Unidos começam a voltar aos eixos.

Em encontro no Panamá, o presidente Barack Obama não pediu desculpas à presidente Dilma Rousseff pela espionagem da NSA. Mas Dilma também desistiu de exigir a contrição pública de Obama.

A presidente deve ter se dado conta de que o episódio já não rendia mais frutos com a audiência interna e de que ela precisa desesperadamente de uma agenda positiva –uma visita a Washington é uma distração amena no atual noticiário.

Portanto, virada a página, é hora de trabalhar. Muita coisa ficou no meio do caminho desde que a visita de outubro de 2013 foi cancelada.

Com pouco tempo para planejar o encontro, será difícil ter "deliverables" muito vistosos. Mas uma boa ideia seria focar nos aspectos econômicos.

O Brasil ainda tem um deficit comercial com os Estados Unidos, de US$ 7,9 bilhões. O país perde competitividade a uma velocidade assustadora e os EUA são um dos principais mercados para manufaturados. Argentina, outro grande mercado para industrializados brasileiros, já se sabe como vai, e isso aparece na queda das exportações automotivas brasileiras.

Há melhores perspectivas para aumentar exportações para os EUA do que para a China, que está em desaceleração e vem importando menos minério de ferro, por exemplo. E consome principalmente commodities.

Um acordo de livre comércio entre Brasil e EUA está fora de cogitação. Mas seria possível aprofundar o Acordo de Cooperação Econômica e Comercial (ATEC) assinado em 2010, que por enquanto não surtiu muito efeito, ou adotar várias medidas de facilitação de comércio, como o Ministério do Desenvolvimento já vem fazendo com o Departamento de Comércio dos EUA.

Outro tópico que poderia render é mudança climática. Os EUA assinaram um acordo com a China em novembro do ano passado, em que os dois países se comprometiam a reduzir emissões.

Trata-se de um acordo politicamente importante - une países que normalmente estão em lados opostos nas negociações climáticas.

O Brasil, um pioneiro nessa área, poderia fazer algo na mesma linha com os EUA, desde que o governo brasileiro deixe de ser "retranqueiro".


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