Folha de S. Paulo


Xiitas, sunitas e o nó do Estado Islâmico

De Kirkuk, Iraque

É fato, o Estado Islâmico está se enfraquecendo no Iraque por causa dos ataques aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos e pela fibra dos soldados curdos, os peshmerga.

Mas nada disso vai derrotar o Estado Islâmico se não forem equacionadas as questões sectárias que permitiram a expansão do grupo terrorista.

A maioria da população do Iraque é xiita. Quando  o ditador sunita Saddam Hussein estava no poder, ele reprimia a maioria xiita. Os EUA invadiram o Iraque em 2003 e depuseram Saddam.

Depois da retirada americana, em 2011, o ex-primeiro ministro Nouri al Maliki, xiita, passou a perseguir sunitas.

Descontentes, os iraquianos sunitas apoiaram o avanço do EI no início, embora muitos tenham posteriormente se voltado contra as práticas do grupo. O EI inclui muitos ex-integrantes do partido Baath, de Saddam Hussein.

O governo iraquiano é alinhado com o Irã, xiita.

Rivais do Irã na região, como Arábia Saudita, Turquia e Catar, apoiaram o EI no início, e há dúvidas se não continuam financiando o grupo de alguma forma até hoje.

"O EI distorce o Islã e aterroriza as pessoas", diz o médico Safeen Sindi, curdo, cônsul honorário do Brasil em Erbil. "99,9% dos muçulmanos não concordam com o EI. Eu sou sunita e não concordo."

A libertação de Mosul é considerada estratégica para deter o EI. Mosul é a capital do grupo terrorista no Iraque, enquanto Raqqa é a capital na Síria.

Mas aí também entram em campo as tensões sectárias.

Em junho, o EI levou 24 horas para tomar Mosul - houve fuga em massa das tropas iraquianas. Os peshmerga curdos não acreditam que os soldados iraquianos estarão prontos para uma operação no curto prazo. Mas os

peshmerga tampouco irão invadir sozinhos Mosul, que tem 70% de árabes sunitas e só 25% de curdos, a maioria dos quais já fugiu da cidade.

O exército iraquiano é composto por sunitas e xiitas. Mas se usar os xiitas para liberar Mosul, a população sunita pode se opor, sentindo-se invadida. Já os sunitas do exército não querem matar os sunitas de Mosul em

nome de um governo xiita que os oprime.


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