Folha de S. Paulo


Os superagentes dos direitos humanos

"É muito difícil contar uma história sobre direitos humanos de uma forma que não seja entediante e chata, porque boa parte do nosso trabalho é rotina, são horas, dias, meses de investigação meticulosa", disse em entrevista ao jornal USA Today Anna Neistat, uma das protagonistas do documentário E-Team, que tem estreia mundial no Netflix hoje (e ao qual eu assisti ontem).

O documentário E-Team é tudo menos monótono.

Os premiados cineastas Katy Chevigny and Ross Kauffman (De Born into Brothels) se focam no trabalho de quatro integrantes do esquadrão de emergência da Human Rights Watch –o casal Anna e Ole Solvang, Fred Abrahams e Peter Bouckaert.

O E-Team é acionado quando há uma situação em que as violações de direitos humanos precisam de uma intervenção urgente. O documentário mostra Anna e marido entrando clandestinamente na Síria e entrevistando parentes de pessoas mortas em bombardeios ou civis torturados e presos. Fred e Peter fazem o mesmo na Líbia, detalhando os abusos cometidos nas prisões de Muammar Gaddafi. E mostram também a importância da investigação de Fred em Kosovo, que foi usada no julgamento de Slobodan Milosevic e no tribunal de Haia.

"Não somos jornalistas, não queremos apenas descrever o que está acontecendo, queremos mudar as coisas", diz Anna no filme.

Em uma amostra do perigo que correm os ativistas, o jornalista James Foley, que foi morto, decapitado, pelo Estado Islâmico, é um dos responsáveis pela captação de imagens do filme, na Líbia. E-Team ganhou o prêmio de Fotografia no Sundance Festival deste ano.

"Somos investigadores criminais trabalhando em crimes internacionais", diz Fred.

E-Team também aborda a dificuldade de conciliar a vida pessoal e o trabalho arriscado.

Quando está saindo de sua casa, em Paris, Anna Neistat pergunta ao filho de 11 anos: "Você quer que eu te traga alguma coisa da Síria?"

Ao que ele responde: "O que? Cartuchos de balas ou bombas".

Mais para frente, Anna se vê em um dilema ao descobrir que está grávida.

É um excelente filme.

ITAMARATY

Em meio a tantas notícias tristes sobre o sucateamento do Itamaraty, há boas novas. O ministério criou um comitê permanente de promoção dos direitos das pessoas com deficiência.

Várias reivindicações foram contempladas, entre elas a modificação dos formulários de viagens e trabalho (missões eventuais e permanentes) com dois novos campos: um para indicar se o funcionário tem deficiência ou se tem dependente com deficiência e ou outro campo para indicar necessidades específicas.

Isso vai ajudar funcionários cadeirantes que, durante anos não viajavam porque o ministério não pagava acompanhante para ajudá-lo no voo, e ele teria de ficar 10 horas sentado sem ir ao banheiro, e vôo direto mais curto para crianças com autismo.


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