Folha de S. Paulo


Itamaraty subjugado

Durante visita a Cuba no fim de janeiro, o semblante da presidente Dilma Rousseff se iluminou quando ela falou sobre "as embarcações super Pós-Panamax de até 18 metros de calado" que seriam movimentadas no recém-inaugurado porto de Mariel.

É com esse tipo de minúcia técnica que a presidente se regozija.

Agora, experimente falar sobre missão de paz no Haiti, Conselho de Segurança da ONU, anexação da Crimeia, reforma da OEA.

A presidente considera esses temas enfadonhos e os diplomatas, em geral, são vistos como desnecessários.

O desânimo no Itamaraty é patente. Desde Jânio Quadros não se via um líder do poder Executivo tão desinteressado em relações internacionais.

O fim das ambições de protagonismo global do Brasil já se incorporou à narrativa cotidiana, é dado como fato.

E o caso Roger Pinto é emblemático da situação triste em que se encontra o Itamaraty.

Diante de uma presidente da República autoritária e que pouco se importa com política externa, o ministério das relações exteriores se transformou no reino do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". No caso, ninguém manda, todo mundo obedece.

O chanceler Antonio Patriota deveria ter se imposto no imbróglio Paraguai, quando foi atropelado pela presidente no episódio de suspensão do Paraguai do Mercosul e admissão da Venezuela.

Mas Patriota engoliu em seco, manteve a fleuma, e "carried on".

Quando levou o pito de Dilma em Malabo por causa das reclamações de Evo Morales em relação ao asilado Roger Pinto, aí Patriota deveria ter dado um ultimato à presidente.

Mas, de novo, submeteu-se aos caprichos de Dilma.

O resultado do absoluto desinteresse da presidente Dilma por relações internacionais é um Itamaraty desprestigiado, negligenciado, e saudoso de seus tempos áureos –hoje em dia, até para os mais críticos da era Lula-Celso Amorim, não dá para negar que todos eram felizes, mas não sabiam.


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