Folha de S. Paulo


Volta Lula, socorro Priyanka

Sei que é arriscado fazer comparações entre a cena política de diferentes países, mas confesso que aqui na Índia é tentador.

No Brasil, temos o Volta Lula, coro puxado pelos insatisfeitos com a performance robótica da nossa presidente Dilma (ou, como ferinamente definiu o "Financial Times", uma presidente com pinta de Angela Merkel, mas com o desempenho dos Irmãos Marx).

Na Índia, Priyanka Gandhi, irmã de Rahul, filha de Sonia e do ex-primeiro-ministro (assassinado) Rajiv, é a grande esperança de boa parte do eleitorado do partido do Congresso.

O partido governou a Índia na maior parte dos 67 anos desde a independência do país da Inglaterra. Sempre teve a dinastia Gandhi à frente.

A eleição cujos resultados saem nesta sexta-feira (16) promete ser uma demissão sumária para essa família política política.

Sonia Gandhi é presidente do partido do Congresso. Ela é viúva do ex-primeiro-ministro Rajiv Gandhi, que era filho da ex-primeira ministra Indira Gandhi. Indira era filha do também primeiro-ministro Jawaharlal Nehru, considerado um dos fundadores da nação.

O herdeiro e cotado para primeiro-ministro é Rahul Gandhi. Mas Rahul não empolga nem os maiores gandhimaníacos. Bonitão, ele é inexperiente e não parece muito interessado em política. Foi um candidato muito relutante.

A mais carismática da família, que até lembra a avó Indira Gandhi, é a irmã de Rahul, Priyanka.

Priyanka foi convocada para tentar evitar o naufrágio dos Gandhi nesta eleição. Ela fala bem e chegou a animar o eleitorado. Mas reluta em entrar na política.

Em primeiro lugar, porque tem um marido com um passado complicado, envolvido em escândalos de corrupção.

Além disso, nesta sociedade patriarcal, as mulheres até ocupam um bom espaço na política, mas são só a segunda opção. Sonia só se envolveu politicamente depois da morte de Rajiv. Indira também só ganhou destaque político após a morte de seu marido, Feroze.

(A propósito, a família Gandhi não tem parentesco com Mahatma Gandhi. O sobrenome vem de Feroze Gandhi, que era marido de Indira.)

Ah, outra comparação tentadora: tal como a nossa Copa, os Commonwealth Games que se realizaram na Índia em 2010 foram cercados de controvérsias. Os estádios que não ficaram prontos a tempo, mídia estrangeira criticou a falta de preparo do governo, emergiram escândalos de corrupção.


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