Folha de S. Paulo


Vácuo na agenda externa

Foi com um longo suspiro de alívio que foi recebida a notícia de que a presidente Dilma Rousseff voltou atrás e resolveu "descancelar" sua ida à reunião de cúpula com a União Europeia, em Bruxelas, no dia 24.

Apesar de ser uma reunião bilateral, é inevitável que o acordo UE-Mercosul venha à tona. O Mercosul não chegou a uma oferta satisfatória, ainda lidando com os obstáculos impostos pela Argentina. Espera-se que os dois blocos possam fazer uma troca de ofertas em meados de março. (Os europeus também adiaram sua apresentação de ofertas em dezembro, por falta de acordo em relação à abertura do setor agrícola).

O acordo com os europeus é visto como alta prioridade no governo brasileiro, diante do avanço dos mega acordos regionais - Parceria TransPacífico e Ttip (EU-Estados Unidos) e o crescente isolamento do Brasil, que tem pouquíssimos acordos comerciais relevantes.

Um "no show" de Dilma seria péssima notícia –o Planalto havia alegado conflito de datas, mas o fato é que a atitude da UE de acionar o Brasil na OMC por causa do Inovar Auto e da zona franca de Manaus irritou a presidente sobremaneira.

O desinteresse da presidente por política externa pode ser medido pelos cancelamentos de eventos importantes. No ano passado, em junho, Dilma cancelou sua ida à cúpula do Ibas, em Nova Déli, a poucos dias do evento. O motivo era compreensível: o pico dos protestos. Mesmo assim, os colegas indianos ficaram bastante contrariados.

Até pouco tempo atrás, não havia uma data para a nova reunião. Agora, trabalha-se com o plano de fazer a cúpula do Ibas um dia antes da reunião dos BRICs, que será dia 15 de julho –a pedido dos chineses, logo depois da final da Copa do Mundo.

A reunião do Mercosul ficou para as calendas. O anfitrião é a Venezuela e a data inicial era dezembro. Foi desmarcada e anunciada para 17 de janeiro. Aí cogitou-se dia 31 de janeiro. Fala-se em começo de março, mas muitos duvidam da possibilidade de reunir presidentes em Caracas, onde falta papel higiênico e sobram protestos violentos.

Ou seja, pouquíssimo a esperar da agenda externa no curto prazo.


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