Folha de S. Paulo


O Brasil que eles vão ver

Na frente da entrada de um hotel em Brasília, uma fila de cinco pessoas à espera de um táxi. Sou a quarta da fila, e comento com o último, resignada: "É, tem fila para tudo agora". Ele --um senhor de uns 55 anos, com jeito de fazendeiro-- assente com a cabeça.

Chega um táxi. O senhor vai até o funcionário do hotel que está organizando a fila. Fala alguma coisa no ouvido dele. O funcionário abre a porta do táxi para o senhor e a mulher dele, que vem atrás.

"Olha, tem uma fila aqui, e tem pelo menos três pessoas na sua frente", protesto, indignada.

Ele desconversa: "Não, mas eu estou indo para o aeroporto".

Pois é, estamos todos.

A mulher do senhor, constrangida, diz: "Fulano, nós não vamos fular a fila".

Ele ainda insistiu um pouco, mas foi convencido pela mulher.

Muitos vão ler isso com um ar de enfado. Oras, quem não sabia que no nosso país tem gente que paga para furar a fila do táxi (e tantas outras filas)?

Mesmo assim, fico indignada. E começo a pensar --OK, vou ter que recorrer ao clichê-- como vai ser durante a Copa?

Muita gente está preocupada com os aeroportos inacabados e manifestações gigantes que vão recepcionar os milhares de turistas que vêm para a Copa.

Eu estou mais preocupada com esse pessoal que paga para passar na frente na fila. E outros tantos exemplos de "gersons" arraigados.

Uma grande amiga, a jornalista Flávia Tavares, me contou o seguinte episódio: nas ruas ao redor do prédio onde ela trabalha, em Brasília, há poucas vagas de estacionamento e muita gente estaciona em lugar proibido. De vez em quando, o Detran passa e põe alguns daqueles cones nas esquinas, para evitar que as pessoas parem o carro. Os flanelinhas vão até lá, tiram os cones do Detran para as pessoas estacionarem e, para completar, ainda colocam uns galhos pra enfeitar os cones.

É esse Brasil que a gente vai mostrar para o mundo.


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