Folha de S. Paulo


Menos micro-ondas, mais produtividade

Sério, agora era o momento de anunciar o "meu micro-ondas, minha vida", presidente Dilma?

A presidente Dilma Rousseff está em uma operação de controle de danos para tentar restaurar a credibilidade da política econômica. Depois da lambada da Standard & Poor's e da revoada de capital externo que vem pressionando o dólar, a ordem é afagar o mercado. Nada de malabarismos contábeis para fechar o superávit primário, promete a equipe econômica. Teremos superávit primário de 2,3 %, garantiu o ministro da fazenda, Guido Mantega.

Depois que até o conselheiro palaciano Delfim Netto repreendeu o descompasso entre a política monetária mais apertada do Banco Central e a continuação da farra fiscal do resto da política econômica, Dilma e companhia resolveram correr atrás do prejuízo.

Mas, francamente, anunciar um programa de empréstimos de R$ 5.000 para clientes do Minha Casa Minha Vida comprarem móveis e eletrodomésticos (apelidado brilhantemente pelo colega Fernando Rodrigues de "meu micro-ondas , minha vida") não combina com a ofensiva de credibilidade.

Uma das grandes críticas à atual política macroeconômica é que as medidas de estímulo ao consumo já deram o que tinham que dar (os últimos números do PIB mostram que a expansão do consumo dá sinais de exaustão) e é necessário aumentar a produtividade e incentivar investimentos.

Mais um programa pontual de incentivo ao consumo (como outros tantos de desonerações) não aborda exatamente o cerne do problema.;

Claro, a função do programa - que vai pesar no combalido Tesouro, já que a linha de crédito é subsidiada - é eleitoral. Podem ser beneficiadas mais 3,4 milhões de famílias.

Mas nesse momento, a maior jogada eleitoral seria controlar a inflação e a percepção popular de preços subindo, que já arranhou a popularidade de Dilma. E o "meu micro-ondas, minha vida" definitivamente não ajuda em nada neste aspecto.


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