Folha de S. Paulo


O soft power do Brasil e as empresas brasileiras

O orçamento da Agência Brasileira de Cooperação é de R$ 36 milhões.

Está certo que o Brasil coopera de outras maneiras. Mesmo assim, é irrisório.

Um dos objetivos implícitos da agência é reforçar o "soft power" do Brasil, ou melhorar a imagem e o poder de persuasão do país ao redor do mundo. Para isso, a Agência, e o Itamaraty, apostam em uma estratégia que diferencie o país das antigas potências coloniais e de alguns dos Brics, nomeadamente a China.

"Não somos doadores tradicionais; nossa política é de cooperação técnica, princípio de solidariedade internacional", diz o embaixador Fernando Abreu, diretor da Agência Brasileira de Cooperação.

Segundo ele, doador tradicional repassava recursos e aplicava em projetos específicos, às vezes já chegava com os projetos prontos e frequentemente contratava ONGs e consultorias dos países de origem.

"Nosso modelo reage a demandas dos governos estrangeiros", diz Abreu.

A agência parte do princípio da não ingerência, não intervenção em assuntos internos, não exige melhor governança ou transparência em troca de cooperação --"isso é assunto de soberania nacional".

O Brasil também quer se diferenciar de novas potências, como a China. Os investimentos chineses frequentemente têm condicionalidades econômicas. Por exemplo: um determinado país precisa de um estádio, a China constrói, importando matéria prima chinesa, usando equipamentos chineses e mão de obra made in China. E depois ainda pede, como contrapartida, a redução da tarifa de determinado produto ou concessão para explorar determinado recurso mineral.

"É uma realidade, temos um passado de colônia e não temos pretensões imperialistas se tivermos cuidado e seguirmos nessa linha atual continuaremos sendo vistos com bons olhos", diz Abreu. "A cooperação técnica certamente dá um ganho de imagem do Brasil na África", diz Abreu.

Mas essa estratégia sul-sul esbarra na expansão das mega empresas brasileiras no exterior, principalmente América Latina e África. Os recursos investidos por essas empresas nessas regiões é gigantesco na comparação com a parca ajuda técnica. E o impacto da atuação dessas empresas sobre a imagem e o soft power do Brasil são enormes.

Moçambique, por exemplo, é o maior receptor de ajuda do governo do Brasil, com US$ 2,5 milhões em 2012 (37% do total), seguido de Timor Leste, com US$ 839.800 (12% do total).

Só a Vale já investiu cerca de US$ 2,5 bilhões em Moçambique, na mina de carvão em Moatize e logística do corredor de Nacala. A Camargo Correa nem sequer iniciou a obra da hidroelétrica de Mphanda Nkuwa, e já gasta cerca de US$ 3,5 milhões com a preparação para o reassentamento que terá de ser feito na área.

Os problemas que essas empresas enfrentam nos países --sejam os percalços do reassentamento de 5100 pessoas pela Vale, ou as suspeitas sobre a concessão de estrada para a OAS na Costa Rica, cancelada esta semana-- anulam boa parte dos ganhos que vêm da política de cooperação.


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