Folha de S. Paulo


Parabéns, ONU

Chip East - 24.set.2012/Reuters
Nuvens refletidas no prédio da sede da ONU, em Nova York (EUA). O projeto é do arquiteto Oscar Niemeyer. *** Clouds are reflected off the Secretariat Building (C) of the UN headquarters during the 67th United Nations General Assembly, in New York, September 24, 2012. REUTERS/Chip East (UNITED STATES - Tags: POLITICS)
Prédio da sede da ONU, em Nova York (EUA)

Em 2011, numa solenidade memorável, o artista plástico Vik Muniz, o também artista e empresário da moda Oskar Metsavaht e eu fomos eleitos embaixadores da boa vontade da Unesco.

Pelas mãos de uma das melhores amigas que o Brasil tem no exterior, Bethy Lagardère, nós três fomos depois da posse ao Palácio do Eliseu, sede do governo francês, para almoço que este baiano nascido no Pelourinho jamais poderia imaginar –estavam à mesa apenas o então presidente Nicolas Sarkozy, a primeira-dama Carla Bruni, Bethy Lagardère e nós três.

Este é o peso da Unesco.

Minha mãe queria que eu fosse diplomata. Virei publicitário e depois também empresário. Mas a vida, com sua dinâmica, consertou isso. Nessa terceira fase da vida, na porta dos 60, quero ser cada vez mais embaixador.

Hoje a ONU faz 72 anos. Ela pode ter todas as imperfeições humanas. Mas, em milhares de áreas de conflitos e refugiados pelo mundo, é a ONU, com seus capacetes azuis e em tantas outras roupagens, que remedia o drama humano e contribui para construir uma cultura de paz.

Se vamos melhorar a ONU, vamos melhorá-la por dentro. Causa revolta quando os EUA, o país mais importante do mundo, decidem sair da Unesco, como anunciado pelo governo Donald Trump, tal qual um menino que pega a bola e diz que não quer mais jogar.

Os EUA são importantes demais para assumirem essa atitude. A ONU está no centro das grandes decisões do mundo, mas ela também está, por meio da Unesco e da Unicef, no dia a dia da humanidade. Ela participa, por exemplo, de iniciativas essenciais e consagradas pelos brasileiros, como o Bolsa Família, a reforma do ensino médio, o Pronatec, a proteção ao nosso patrimônio histórico, o vital programa de prevenção à Aids e muito mais.

A Unesco trabalha por meio de cooperação técnica com o setor público e o privado, como no consagrado Criança Esperança, com a TV Globo, e numa parceria que muito me honra com a Central Única das Favelas (Cufa).

Em 1945, 44 países adotaram a Constituição da Unesco e escreveram um parágrafo que define o espírito de sua ação: "Uma vez que as guerras se iniciam nas mentes humanas, é nas mentes humanas que precisa ser construída a defesa da paz".

Como publicitário, sei mexer com a mente das pessoas, mas a vida toda dediquei meu tempo e mobilizei meu grupo empresarial para abraçar causas ligadas às imensas demandas sociais do Brasil e do mundo. É por esse trabalho que a Unesco me elegeu embaixador da boa vontade, como Milu Villela e Pelé.

Ser embaixador da Unesco e do esporte paraolímpico brasileiro, como também sou, não é um privilégio, é uma missão.

E é como embaixador e, sobretudo, como homem de boa vontade, que agradeço à diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, por sua atuação dedicada e apaixonada. Foi ela quem me apontou embaixador e agora está deixando o cargo.

Obrigado Irina, e bem-vinda Audrey Azoulay, ex-ministra da Cultura da França.

Azoulay vem de família judia marroquina, é socialista e filha de banqueiro. Mulher, francesa, marroquina, judia, socialista, filha de banqueiro, ela traz em si todas as intenções e contradições da natureza humana presentes na Unesco.

A Unesco, a ONU e outras grandes instituições mundiais são centro de pecadores como Pedros e Franciscos. Elas são organizações lindas, falhas e humanas. Mas é trabalhando dentro delas que vamos construir esse tão difícil e tão sonhado mundo melhor.


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