Folha de S. Paulo


Trump presidente é motivo para você pensar todo dia no futuro e praticá-lo

Andrew Harnik - 21.ago.17/Associated Press
President Donald Trump, first lady Melania Trump and their son Barron watch the solar eclipse, Monday, Aug. 21, 2017, at the White House in Washington. (AP Andrew Harnik) ORG XMIT: DCAH205
O presidente dos EUA, Donald Trump, observa da Casa Branca eclipse solar

O medo foi dado ao homem como uma informação sistêmica, um estado de alerta, um chamado à ação diante dos barulhos da floresta, da escuridão da noite, diante do que se anuncia.

Esses alertas são fundamentais para compreender tempo e espaço, mas é preciso cuidar para que o medo não paralise. Como dizia um amigo, o medo de ficar para trás deve levar as pessoas para a frente.

Com crise ou sem crise, as coisas estão mudando em altíssima velocidade. A revolução é tão grande que, se você esperar ela passar, quem vai passar é você.

Não dá para ficar olhando o futuro com medo. As pessoas falam muito do futuro e ficam praticando o passado. Como definiu Peter Drucker, "a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo".

E o futuro não é nada trivial. Ele não é binário, não é bem versus mal, certo contra errado. O futuro é complexo.

Muito terá de mudar dada a avalanche de transformações em curso: uma revolução que parece tecnológica, mas que é acima de tudo humana. A ambição e a compreensão humanas avançam na velocidade do chip, do streaming, do processamento de dados coletados em proporções infinitas.

E, se ninguém nunca conseguiu segurar a mente humana, imagine segurar a mente humana alavancada pelos softwares e gadgets disponíveis já na palma da mão e daqui a pouco dentro do nosso cérebro.

O futuro, por definição, sempre se impõe e ele pode chegar de repente. As pessoas ficam discutindo sobre as reformas, que são fundamentais. Mas quem vai implementar reformas, para o bem ou para o mal, será a tecnologia. Isso já estava acontecendo no mercado de trabalho antes da reforma do trabalho. Assim seguirá.

Uma das coisas que mais me assustam no nosso ambiente político é que ele está pensando sempre com os elementos de hoje, enquanto o futuro chega acelerado e pode posicionar todos nós antes de nós tentarmos definir nossa posição.

No último encontro global da hypada Universidade Singularity, na Califórnia, que acompanhei à distância (ah, a tecnologia), a ideia era trazer o futuro para o presente. Daí a conclusão de que, mais importante que pensar no ROI (retorno sobre o investimento, na sigla em inglês), é preciso pensar no COI, o custo de ignorar (as mudanças, o futuro) —ele pode ser letal.

O grande problema de uma crise como essa do Brasil é que ela lhe enfia no curto prazo para baixar custos, agir taticamente, sobreviver, que o resto resolvemos depois.

Mas, se, em vez de ficar só falando do futuro, começarmos a praticá-lo, podemos encontrar na tecnologia e na sua interação com mercados e consumidores caminhos para poupar tempo e esforço, simplificar a produção, melhorar os serviços. E, assim, não só superar a crise como também evitar de ser atropelado pelo próximo Uber —que virá.

Nesse novo túnel do tempo, a experiência não basta. É preciso novos olhos e novas ideias. Na Singularity, teve quem definisse experiência como fracasso. Se você ficar revisitando seu passado e as coisas que já fez para projetá-las no futuro, corre grande risco de fracassar porque a mudança hoje é brutal e rápida.

Foi o que vimos nas mais recentes eleições americanas. O candidato eleito fez uma interpretação completamente revolucionária dos dados que tinha, e sua campanha publicitária, feita em cima dessa interpretação, levou a um resultado completamente inesperado por quase todos.

E Trump presidente deve ser motivo suficiente para você parar todo dia para pensar no futuro, e, sobretudo, praticá-lo.


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