Folha de S. Paulo


Atacar os problemas

O maior desafio no Brasil e em muitas partes do mundo é popularizar o impopular, criar o entendimento de que determinadas situações exigem medidas duras e desagradáveis.

Os nossos pais não nos criaram com um instituto de pesquisa nas mãos. Eles não queriam ser populares, queriam nos dar a melhor criação possível com os recursos de que dispunham.

George Osborne, o ministro da Fazenda do Reino Unido, enfrentou enorme resistência ao lançar o duro programa de ajuste econômico alguns anos atrás. Hoje seu país está de volta aos trilhos do crescimento.

Eu já tive 200 quilos. E, acredite, ninguém emagrece de maneira feliz. A dieta da Lua, da alface ou aquela que promete emagrecer comendo de tudo são muito populares. Mas elas não funcionam.

Eu já atuei em marketing político em priscas eras e sei como é difícil para os políticos, todos os políticos, tomarem medidas duras e impopulares. Mas a sociedade não pode acreditar que os fundos públicos são infinitos, que é possível resolver dívidas históricas na canetada dentro de um gabinete.

Aliás, como dizia Margaret Thatcher, não existem recursos públicos, existem apenas os recursos dos contribuintes.

E não adianta acreditar em falácias. Não dá para progredir de forma sustentável com esse sistema tributário e previdenciário que nós temos. Não dá para seguir com leis trabalhistas enraizadas nos anos 1930, que, em vez de protegerem empregos, dificultam a criação de vagas de trabalho.

E, por mais que esses temas difíceis e complexos sejam discutidos nos grandes debates e na grande imprensa, a sociedade não parece disposta a enfrentá-los com a profundidade e a urgência que eles exigem.

Isso não é culpa de ninguém. O jogo da culpa não levará a lugar nenhum. O que precisamos é discutir o que é impopular, mas necessário.

As soluções para o país estão postas. O problema é que grande parte da população não está convencida das coisas impopulares que temos de fazer. Esse desafio é das grandes nações do mundo, mas no Brasil ele ganha contornos bem brasileiros.

Vivemos numa churrascaria de vegetarianos, num país capitalista que tem horror ao lucro, a empresários e a empresas.

O Brasil precisa vender o capitalismo para o povo. Países dão saltos com capacidade de argumentar. Sem debate honesto, profundo e abrangente, não vamos muito longe, e vamos aos solavancos.

O Estado tem de cuidar das pessoas, e as pessoas têm de cuidar dos negócios. O empreendedorismo precisa ser ensinado nas escolas como valor fundamental da nação. Quem constrói uma empresa constrói empregos e riqueza. Quem constrói uma empresa constrói um país. E, de novo, não adianta discutir isso em seminários e todos concordarem. Essa agenda precisa ganhar as ruas.

A Grécia não quis abraçar uma pauta razoável. Negou a realidade, e o sofrimento de seu povo aumentou. Agora é o próprio partido radical de esquerda que comanda as reformas capitalistas que antes condenava radicalmente.

Balas boas deixam os dentes careados, diz o samba antigo. Não adianta se iludir.

Jeff Bezos, o fundador da Amazon, diz que as coisas na vida são presentes e escolhas. A beleza é um presente, mas a disciplina é uma escolha.

A sociedade precisa discutir as grandes pautas, não só quem é sério e honesto. Temos de discutir propostas e reformas, não apenas o caráter das pessoas.

Está na hora de parar de atacar as pessoas e atacar os problemas. Sem demagogia.


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