Folha de S. Paulo


Dois surfistas

Na lista das cem pessoas mais influentes do mundo, a revista norte-americana "Time" apontou dois brasileiros -o surfista Gabriel Medina e o megaempresário e ex-surfista Jorge Paulo Lemann.

É interessante que os dois brasileiros da lista sejam surfistas, porque a vida no Brasil e na América Latina não é um lago. Ela é cheia de marolas, marolinhas e ondas enormes.

O ambiente de negócios aqui é como surfar. Ou surfamos uma onda de oportunidades ou enfrentamos cada baita maré braba que desaba sobre nós.

Quem leu o livro "Sonho Grande", de Cristiane Correa, sobre os 3G, pode ver que Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles citam sempre o mar. E tiram dele sabedoria de pescador e surfista para o ambiente de negócios.

O mar ensina tanto que Carl Icahn, um dos maiores investidores americanos, ao escrever o perfil de Lemann para a lista da revista "Time", o definiu como uma das quatro ou cinco pessoas mais inteligentes de Wall Street.

Para os gringos, as mudanças de maré no Brasil e na América Latina são assustadoras. Nós, que vivemos aqui, desconfiamos da bonança, mas também não nos assustamos tanto quanto eles quando as ondas revoltas da economia vêm quebrar em nós.

De 1985 a 1994, o Brasil teve nada menos do que 12 ministros da Fazenda e sete planos econômicos para chamar de seu.

Todas as dificuldades e equívocos daqueles anos turbulentos forjaram um DNA empresarial com enorme capacidade de resistir e inovar, de enfrentar adversidades e encontrar soluções. Essa capacidade é justamente um dos aspectos mais sofisticados da nossa economia e do nosso mercado.

Como qualquer empresário brasileiro, já tomei muito tombo, mas aprendi também a ser um pouco Gabriel Medina em meus negócios, a subir de novo na prancha, enfrentar de novo a arrebentação e surfar a próxima onda.

Numa crise, como num caldo, a solução não é se queixar nem ficar parado, a solução é buscar saídas.

Aliás, a quantidade de presidentes-executivos e líderes empresariais que são surfistas no Brasil é enorme, como Marcello Serpa, um dos principais criativos e um dos grandes empresários da propaganda; Oskar Metsavaht, um dos maiores empresários da moda brasileira; Fernando Madeira, presidente-executivo do Walmart.com para os Estados Unidos e a América Latina; Marcio Santoro, copresidente da agência Africa; só para citar alguns exemplos.

Surfe, como se diz hoje em dia, é o novo golfe. Eu não sou surfista, sou empresário e publicitário, mas imagino que com o mar os presidentes-executivos devam aprender muita coisa. Paciência de esperar o vento, entender os sinais da natureza, ter senso de timing, erguer-se depois da queda, controlar as emoções, dominar a coragem e o medo. Porque excesso de coragem e excesso de medo são fatais no ambiente de negócios em que a gente vive.

Este país, eu repito, não é um lago. Isso aqui é uma baía empresarial com ondas a favor e ondas contra, sobre as quais precisamos manobrar com muita razão e sensibilidade. Por isso, nós, brasileiros, com ou sem prancha, somos todos surfistas.


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