Folha de S. Paulo


Liderar na crise

Abri a agência DM9 no dia 19 de setembro de 1989, com investimento de U$ 1 milhão obtido no mercado financeiro. Collor assumiu a Presidência em janeiro de 1990, e seu plano congelou todo o dinheiro a ser investido.
Passei um dia inteiro deitado, sem saber o que fazer. No dia seguinte, levantei com meu espírito decidido a liderar na crise e comecei a ter uma atitude de líder.

Uma frase que ficou famosa na época ("enquanto outros choram, eu vendo lenço") vem de anúncio que publiquei no qual eu vendia meus serviços a empresas em pânico.

Na crise, cresce quem tem saídas, e não só queixas.

Convoquei uma coletiva para a imprensa e para os meus clientes no McDonald's, cujo convite dizia: "Não é porque sua verba desapareceu que a sua agência vai desaparecer. Nós vamos estar aqui do seu lado. Venha ver as saídas na nossa apresentação no McDonald's (o lugar você compreende, o nosso dinheiro também sumiu)".

Usei liderança e criatividade para estar mais perto dos clientes e para não deixar meus colaboradores desanimados. Aquela posição de liderança, de parceria, de ser uma voz de razão num mar de desânimo, foi fundamental para a DM9 deslanchar. E ela cresceu muito na crise.

As grandes empresas brasileiras não foram criadas na bonança, até porque momentos de bonança são raros na história do Brasil e da América Latina. Elas foram erguidas enfrentando dificuldades econômicas e políticas. E superaram essas dificuldades se reinventando, encontrando oportunidades nessas crises. Seus empresários não foram só empresários. Nesses momentos, foram grandes líderes.

São líderes que constroem as empresas líderes. Darwin diz que as espécies que sobrevivem não são as mais fortes, e sim as que mais rapidamente se adaptam a novas condições.

É de líderes que o momento atual precisa. O piloto e a aeromoça não podem entrar em pânico na hora da turbulência.

Por isso agora nas empresas a comunicação interna, o endomarketing, é fundamental. As empresas não precisam de chefes neste momento, precisam de líderes.

Nossos clientes precisam de soluções inovadoras, baratas, práticas e simples. As grandes invenções foram criadas em momentos de guerra. Foi o frio que inventou o fogo, a distância que inventou a roda. É o problema que cria a grande solução.

A crise econômica no Brasil é um fato. Mas não adianta ficar só chorando com o ambiente externo à empresa, que ela não consegue mudar. Então temos que mudar o ambiente da empresa: inovar as formas de fazer, investir na produtividade e olhar para o médio e o longo prazo.

Adoro biografias de grandes homens porque eles nos mostram como superaram muitas vezes momentos como este.

Equipes na crise não podem ser lideradas por e-mails, whatsApps ou SMSs. Elas têm de ser lideradas por exemplos, soluções que inspirem, saídas que engajem. Se o RH, o departamento que cuida de gente, é vital hoje, ele o é mais ainda nos momentos de agora.

E os líderes têm que fazer tudo o que pedem para as pessoas fazerem. Se você pede corte de custos, comece você mesmo a cortá-los. Ninguém vai acreditar que há crise se você estiver de férias; se não estiver trabalhando de manhã até a noite; se não estiver ligado no celular e nos e-mails o tempo todo, respondendo aos clientes e aos colaboradores em tempo recorde.

Isso exige cabeça descansada, foco, sono, esporte, meditação... o que for preciso para controlar o estresse. E também uma agenda limpa de tudo o que distraia desses objetivos.

Essas não são verdades minhas, é o que eu aprendi na vida dos grandes homens. Mas não é só se inspirar nos grandes brasileiros do passado, mas no que nossos líderes inspiradores estão fazendo agora. E nas empresas que estão crescendo ou vão crescer aproveitando as oportunidades de toda crise –perto dos clientes, perto dos colaboradores, perto do celular. Este é o lugar de liderar agora.

O líder é aquele que serve. E, neste momento, ele tem que servir de exemplo para seus colaboradores, de inspiração para seus clientes e de voz da razão e bom senso para a nação.


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