Folha de S. Paulo


Soluções de abundância

Afinal, 2014 foi um ano bom ou ruim? Cada um tem sua resposta. O que se pode dizer geralmente sem errar é que os pessimistas precisam ser mais otimistas, e os otimistas, mais pessimistas. Eu sempre fiquei com os otimistas. O otimismo fortalece, o pessimismo enfraquece. Claro que não podemos ignorar os problemas, muito menos minimizá-los. Os números e o clima da economia estão ruins.

Mas li na semana passada que o chamado IED (Investimento Estrangeiro Direto) no Brasil está muito maior do que se esperava no começo do ano. Como esses investimentos estrangeiros na produção são de longa maturação, eles focam os fundamentos de longo prazo do país. Em janeiro projetavam-se cerca de US$ 50 bilhões de IED em 2014, mas, até outubro, já haviam entrado US$ 66 bilhões. Praticamente todos os outros índices econômicos ficaram piores que as projeções de janeiro. Mas esse que mede o sentimento de mais longo prazo melhorou.

Tem gente lá fora vendo o que o nosso olhar interior às vezes não alcança, focados que estamos em vencer as dificuldades da frente, do dia. O Brasil tem fundamento. Um mercado consumidor gigante e ávido por consumir mais e melhor, um sistema democrático e capitalista com instituições fortes, imprensa livre e Justiça independente. E um povo trabalhador, empreendedor, criativo, à espera de melhor educação para florescer. A educação, aliás, é justamente um dos setores que recebem muito investimento estrangeiro, já que o número de brasileiros no ensino superior só pode crescer.

Uma das coisas que mais me animam é trabalhar com empresas com grande potencial de crescimento. São empreendedores que mapeiam o Brasil e o mundo atrás de oportunidades, não de obstáculos, e contaminam a todos em sua volta com sua visão.

Li um livro já nem tão novo chamado "Abundance", de Peter Diamandis, que também me contaminou. Não é um livro sobre otimismo, mas sobre tecnologia. Filho de um médico grego, Diamandis nasceu no Bronx, formou-se em aeronáutica no MIT e em medicina em Harvard, criou empresas, prêmios e projetos e ainda fundou a universidade mais moderna do mundo, a Singularity.

Para Diamandis, o mundo está diante de grandes descobertas. O acesso a ferramentas fantásticas como um smartphone permite que um adolescente no lar mais pobre do país mais pobre tenha acesso a mais informação do que Bill Clinton tinha quando era presidente. Essa acessibilidade e interconectividade capacitam muito mais cérebros de diferentes origens e entendimentos a contribuir para o desenvolvimento tecnológico, reduzindo a dependência de grandes centros e de grandes recursos e criando as inovações mais adequadas a cada contexto.

A visão de Diamandis se baseia em dados factuais das conquistas das últimas décadas. E aponta quatro vetores para as próximas transformações:

1) as tecnologias de computação, comunicação, medicina, energia e outras estão se desenvolvendo e se combinando para produzir descobertas que ainda nem conseguimos vislumbrar em diversas áreas;

2) esse big bang tecnológico permitiu a emergência de milhares de empreendedores capazes de inovar de forma descentralizada e a custos reduzidos;

3) ambiciosos filantropos como Bill Gates e Warren Buffett estão investindo bilhões na criação de soluções específicas para grandes questões como o acesso à saúde e o combate à fome;

4) o "rising billion", ou o bilhão de pobres do mundo que estão emergindo e que, com essas novas tecnologias, poderão pela primeira vez na história criar eles mesmos ferramentas, caminhos e mercados para implementar suas próprias "soluções de abundância".

Uma parte significativa desse bilhão é do Brasil. Já vivemos momentos muito piores que o atual. Da mesma forma com que superamos a ditadura e a hiperinflação, por exemplo, podemos superar este ano de crescimento baixo com alto aprendizado. Afinal, o Brasil é abundante desde que nasceu. Vamos agora criar soluções de abundância.


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