Folha de S. Paulo


Siga George Osborne

Se você está sentado numa mesa de jantar ao lado de sir Richard Branson e na frente da extraordinariamente interessante e carismática ministra das Finanças da Nigéria, dra. Ngozi Okonjo-Iweala, fica difícil prestar atenção em qualquer outra pessoa.

Mas eis que meus ouvidos se dirigiram a um sujeito jovem, magro, de bochechas inglesamente rosadas e uma verve próprias de quem é craque em debater com opiniões fortes, mas não tão populares, como Churchill e Thatcher.

O nome do ilustre desconhecido para mim era o honorável George Osborne, "Chancellor of the Exchequer", ou o ministro das Finanças do Reino Unido.

Minha amiga Tina Brown me sentou à frente dele e assoprou: você vai conhecer uma pessoa muito interessante. E uma pessoa que se destaca numa mesa com sir Branson e dra. Okonjo-Iweala ("googlem" ela) tem que ser interessante.

George Osborne é interessante desde pequeno. Nascido no seio da aristocracia anglo-irlandesa, ele inicia a vida com o nome Gideon, mas, aos 13 anos, num pequeno ato de rebeldia, vai à mãe e diz: "Eu não gosto do nome Gideon e quero trocar". No que ela retrucou: "Eu também não gosto de Gideon".

Então Gideon trocou seu nome para George, em homenagem ao avô, herói de guerra. Assim, com essa primeira e pequena reforma, não parou mais de surpreender.

Ele é o ministro das Finanças, mas não estudou economia. Estudou história. E foi apontado comandante da economia britânica aos 38 anos. Suas primeiras medidas foram criar um departamento de responsabilidade fiscal e cortar custos para reduzir o tamanho do Estado. E foi fazendo coisas impopulares no curto prazo que ele colocou seu país no trilho em que está hoje.

A própria Tina Brown me disse que no início não imaginou que o que ele estava fazendo daria certo. E é aí que a história me interessa. O mundo precisa de líderes que saibam se comunicar para fazer o que é difícil e impopular, mas necessário.

Eu fui gordo minha vida inteira. Um gordo consumindo 3.000 calorias é um sujeito feliz indo pro beleléu. Um gordo com uma dieta de 1.000 calorias é o mais infeliz dos homens, de péssimo humor, quando na realidade todos os seus indicadores vitais estão melhorando.

O desafio que os líderes mundiais têm hoje é como se manter no poder e no rumo com medidas impopulares. Eu só compreendi muitas coisas que minha mãe me impôs, me ensinou e me enfiou goela abaixo muito tempo depois.

A vida de George Osborne foi facilitada pelo apoio fundamental do premiê David Cameron e também pela capacidade de comunicar e debater coisas árduas desse ministro-político. Ele foi eleito membro do Parlamento por Tatton em junho de 2001, tornando-se o mais novo conservador na Câmara dos Comuns, e depois comandou a campanha de Cameron à liderança do Partido Conservador.

Capacidade de comunicação, julgamento e seleção são os desafios de CEOs, presidentes e primeiros-ministros. Como tomar medidas certas que são incompreendidas no curto prazo pelo mercado financeiro, pelo Parlamento ou por um grupo de eleitores.

Os grandes lideres, por carisma ou sabe Deus o motivo, têm esse poder. Como as grandes mães que assumem a impopularidade no curto prazo, mas que serão compreendidas pelos benfeitos.

Esse é o desafio da democracia no mundo todo. As mães não precisavam lidar com democracia. São as tiranas mais maravilhosas do mundo.

Conseguir fazer mudanças duras com Parlamento aberto, imprensa livre e redes sociais ativas é o que transforma esse sujeito de bochechas rosadas e com o dom de debater e expor suas ideias mais interessante que sir Branson.

Por isso tudo, de todas as coisas que eu vi e ouvi em Davos, o ministro das Finanças britânico é aquele que eu mais recomendo aos meus leitores que acompanhem, concordando ou não com o dito aqui.

Um garoto de 13 anos que mudou seu próprio nome é certamente um transformador, e o mundo precisa desesperadamente deles.


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