Folha de S. Paulo


A hora das empresas

O crescimento do Brasil neste século está intimamente ligado ao crescimento de suas grandes empresas. Elas serão o melhor motor da economia, nossa fonte primária de tecnologia, inovação, produção, investimento, emprego, receita, exportação, líderes e empreendedores.

Este é o momento de as boas empresas brasileiras se transformarem em grandes empresas brasileiras. Depois da expansão do mercado interno e cativo, precisamos agora nutri-las com um ambiente de negócios melhor, que reduza custos e eleve a competitividade.

E, se a euforia com a emergência dos emergentes alguns anos atrás pode ter sido exagerada, o pessimismo atual também passou do ponto.

Alguns fluxos são mais fortes do que conjunturas. Transformações ocorridas em países como China, Índia, Turquia e Brasil não serão revertidas. Pelo contrário. As empresas do
Brasil e de outros emergentes que souberem usar essas novas dinâmicas, locais e globais, estarão prontas para dar o grande salto e levar junto os seus países.

Estudo divulgado neste mês pela reputada consultoria McKinsey é enfático ao vaticinar o fim da grande dominação do mercado global pelas grandes empresas dos países ricos.

Intitulado "Mundo Urbano: a Paisagem Mutante dos Negócios Globais", o estudo da McKinsey Global Institute não deixa dúvidas de que a emergência dos emergentes está longe de acabar e será reforçada pela ascensão de suas empresas.

Cerca de 70% das 7.000 novas empresas a atingir US$ 1 bilhão de faturamento ou mais de hoje até 2025 virão dos mercados emergentes, prevê a McKinsey.

Com isso, 45% das 500 maiores corporações do mundo devem estar sediadas em países emergentes em uma dúzia de anos, ante 5% em 2000 e 25% hoje em dia.

É verdade que muito desse crescimento empresarial ocorrerá na China. Mas 330 cidades do mundo devem abrigar pela primeira vez a sede de uma empresa com faturamento superior a US$ 1 bilhão.

Essa grande dispersão de grandes empresas se dará também aqui. O estudo cita Campinas e Santa Catarina como exemplos de regiões propícias ao surgimento dessas grandes empresas. E aponta a Embraer como exemplo de empresa brasileira que cresceu de modo formidável nos últimos anos em mercados emergentes e hoje vende produtos de ponta para várias regiões do planeta, da mesma forma como fizeram corporações japonesas e sul-coreanas na segunda metade do século 20.

Mas nada disso está garantido.

Numa competição que é global e feroz, empresas e empreendedores brasileiros enfrentam velhos e novos problemas: uma carga tributária pesada e irracional; um ambiente de negócios cheio de dificuldades; uma força de trabalho carente de treinamento e educação; uma infraestrutura precária; custos exorbitantes.

Para aproveitar a nova paisagem que o estudo da McKinsey revela, precisaremos de muito trabalho e de muita energia para criar condições para as empresas crescerem e os empreendedores empreenderem.

Estava no Fórum Econômico Global em Davos, em 2011, quando seu fundador, o visionário Klaus Schwab, viu a novidade: "As transferências de poder econômico e político do Ocidente para o Oriente, do Norte para o Sul, assim como a velocidade da inovação tecnológica, criaram uma realidade completamente nova", afirmou o alemão.

Mas, se Davos é um termômetro, ele aponta para a necessidade de o Brasil se dar um choque de globalização. Isso hoje significa não apenas estar mais presente em fóruns como o dos Alpes suíços, mas principalmente tomar medidas urgentes para aumentar a competitividade das empresas brasileiras e dar aos nossos empreendedores condições melhores para aplicar sua visão, sua capacidade de trabalho e seu entusiasmo.

Com as condições certas, os empreendedores e suas empresas transformarão suas comunidades e transformarão o Brasil.

Uma grande nação se faz com grandes empresas.


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