Folha de S. Paulo


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O IBGE chacoalhou o Brasil na semana passada ao anunciar expansão do PIB acima das expectativas. Sem o mesmo abalo, o IBGE também divulgou dados e projeções demográficas de 2000 até 2060, um tesouro para planejadores e investidores, públicos e privados.

O Brasil oficialmente rompeu a barreira dos 200 milhões de habitantes no último ano, atingindo população estimada de 201.032.714 em julho de 2013.

De julho de 2012 para cá ganhamos estimados 7 milhões de brasileiros, um Paraguai inteiro num ano. E, quando se fala em mercado, tamanho sempre será documento.

Para quem está contaminado demais pela ponta da curva, é bom prestar atenção no IBGE, que tem revelado perspectivas mais amplas dos últimos e dos próximos anos. A curva longa aponta um Brasil novo que, independentemente do ritmo de crescimento, não retrocederá.

As marchas populares de junho são a manifestação mais carnal das estatísticas: uma população que tem mais renda, bens e educação e que por isso mesmo quer mais renda, bens e educação (e saúde, transporte, cultura...).

Os avanços socioeconômicos dos últimos 20 anos foram profundos, mesmo que menores que nossa ambição. Seus efeitos ainda nos transformam, bases de consumo ainda se expandem.

O bônus demográfico de que usufruímos desde a década de 1970, com o número de pessoas em idade de trabalho crescendo mais que o total da população, terá seu auge na próxima década, com 70 de cada 100 habitantes em idade ativa. É uma oportunidade enorme de dar o salto que falta ao desenvolvimento, com choque educacional e de gestão. Mas é uma janela que se fecha. Não há tempo a perder.

Hoje somos 201 milhões em ação, a mesma população dos EUA em 1970. Os americanos são hoje mais de 300 milhões, uma marca que jamais atingiremos.

O Brasil deve bater seu pico populacional em 2042, com 228 milhões de habitantes, recuando a partir daí, diz o IBGE.

Ou seja, depois dos 7 milhões dos últimos 12 meses, o país ganhará mais 27 milhões de habitantes/consumidores nos próximos 30 anos, uma Venezuela inteira em três décadas.

Como disse nestas páginas de "Mercado" na semana passada o presidente do enorme grupo chinês Lifan, Yin Mingshan: "Só idiotas não investiriam no Brasil". O IBGE está dando mais 7 milhões de motivos para investir desde o ano passado, ou mais 30 milhões no médio prazo.

Outra recente pesquisa estimulante do ano é o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, do Ipea, que organizou dados de 5.565 municípios, com mais de 180 indicadores de população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade.

É muita informação, Brasil na veia, "big data" para seu planejamento estratégico nacional, regional, local. O Brasil é um continente de oportunidades para as empresas brasileiras de todos os tamanhos. Mesmo gigantes nacionais só agora cruzam fronteiras regionais. São processos novos de expansão, que esses dados ajudam a nortear.

A evolução da educação é um exemplo de como chegamos não ao final de um velho processo, mas ao começo de um novo.

Mesmo com tantas deficiências, as estatísticas mostram que, de 1991 a 2010, tivemos avanços fundamentais nessa área, aponta a compilação de dados do Ipea.

Em 20 anos, o número de crianças de 5 a 6 anos frequentando a escola pulou de 37,3% para 91,1% do total; o de jovens de 15 a 17 anos com fundamental completo passou de 20% para 57,2%.

Mesmo insuficientes, são conquistas importantes. Se ainda não conseguimos garantir educação de qualidade a todos, ampliamos muito o acesso à educação. E educação puxa educação. É esse o caminho.

É essa a nova base na qual operamos. Uma base maior, mais velha, mais educada, mais exigente, sem compromisso com o atraso. O compromisso é com o avanço.

Os dados estão aí, nacionais, regionais, municipais, para serem processados e transformados em bons negócios.

Quem entende na frente sai na frente. E quem sai na frente chega antes.


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