Folha de S. Paulo


Meu nome é

Neste próximo sábado, em Nova York, um grupo de jovens distribuirá nomes pela cidade. A ideia por trás do "Nametag Day" é que, se soubermos os nomes das pessoas com quem interagimos anonimamente nas ruas, nós seremos mais simpáticos com elas e poderemos estabelecer relações mais afetivas e efetivas, melhorando o difícil convívio urbano.

Milhares de etiquetas de identificação ("nametags") serão distribuídas em vários pontos da cidade para os nova-iorquinos de todo o mundo colarem seus nomes na lapela.

Os organizadores criaram um site para receber doações e já conseguiram arrecadar recursos suficientes para produzir pelo menos 30 mil etiquetas a serem oferecidas por voluntários. Quanto mais arrecadarem, mais distribuirão.

O pai da ideia, um nova-iorquino da Califórnia, disse que se inspirou nas etiquetas de identificação distribuídas em eventos e conferências para facilitar o "networking".

Um dia ele saiu do local do evento de que participou com a etiqueta de identificação pendurada e percebeu que os desconhecidos com quem interagiu foram mais simpáticos e o trataram melhor só por saberem o seu nome.

Vamos ver se a ideia pega. A ambição dos organizadores, como é comum hoje, é que o "Nametag Day" se torne global rapidamente.

Essa ação de marketing social revela traço humano importante que a publicidade conhece bem: quanto mais sabemos das pessoas ou das coisas, maior o nosso envolvimento com elas e menor a nossa indiferença.

A urbanização intensa das últimas décadas criou no ser humano a possibilidade (ou a ilusão) de viver só, indiferente, quando somos seres natural e biologicamente gregários.

O sucesso incontestável das redes sociais prova que a tecnologia, ao contrário do que diziam os céticos, sempre eles, não irá nos afastar uns dos outros, mas nos aproximar. Um exemplo entre muitos é o que nos espera nas ruas e nas estradas. Os cientistas que programam carros do futuro preveem comunicação intensa entre os veículos.

A conexão entre os carros será também a conexão entre os motoristas. O motorista de trás vai saber exatamente quando o motorista da frente fará uma conversão, brecará, acelerará.

E tenho certeza de que, com o tempo, a conexão entre eles irá muito além do mero fluir do trânsito.

O ser humano é antes de tudo um comunicador. E um leitor ávido de comunicação.

Nossos telefones inteligentes hoje já conseguem enviar e receber mensagens do que está ao nosso redor. Aplicativos de relacionamentos populares comunicam para os vizinhos dentro de um mesmo ambiente que aquele usuário está atrás de um parceiro/parceira naquele momento e que gosta dessa ou daquela coisa.

Isso só vai aumentar. A era da comunicação total está apenas começando. A tecnologia que desenvolvemos intensamente nos últimos anos e desenvolveremos intensamente nos próximos é uma tecnologia em grande parte baseada e voltada para a comunicação.

O que gostei muito na ideia de as pessoas exibirem seus nomes em Nova York é que ela está baseada numa tecnologia "low-tech": adesivo e caneta é tudo o que você precisa para espalhar um vírus social pela cidade.

Imagine como seria a convivência num ônibus lotado se todos os passageiros soubessem os nomes das pessoas ao lado. O empurra-empurra anônimo poderia ser trocado por frases simpáticas: "Maria, por favor, posso passar?"; "João, vou descer no próximo ponto".

O nome é nossa marca primordial. Ele nos acompanha antes mesmo do nascimento.

É a primeira pergunta quando se quer estabelecer um relacionamento além do impessoal.

"O que há num nome? Aquela que chamamos de rosa se tivesse outro nome teria o mesmo doce perfume", diz Julieta a Romeu na célebre peça de Shakespeare, argumentando que mais importante que os nomes das coisas é a sua essência.

Concordo plenamente. Não existe marca sem conteúdo, nome sem pessoa.

Mas o nome, ou a marca, é um ótimo ponto de partida para um relacionamento.

Meu nome é Nizan.


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