Folha de S. Paulo


Por todos os elefantes da Índia

Leonardo Wen - 10.abr.2007/Folhapress
SAO PAULO - 10 DE ABRIL DE 2007 - Prato de Garam Masala, feito a base de uma variedade de ingredientes, e que e o tempero base para o preparo do Curry, no Restaurante Tandoor, que fica no Paraiso, em Sao Paulo. (Foto: Leonardo Wen/Folha Imagem, ILUSTRADA)

Portuguesa hospedada em casa! Faz um tempão que não cozinho e ela precisa comer. Graças a Deus gosta de tudo, menos de cordeiro. Não iria fazer cordeiro mesmo, ora!

E baixou em mim, socorro, a entidade da comida indiana, qualquer coisa de Portugal nas Índias e quando bate a vontade de cozinhar há que obedecer. Esqueci do dendê, das moquecas, da comida baiana e da mineira, da farinha de milho paulista, vejam só, não se explica uma cozinheira que só faz o que quer. Talvez seja para mostrar que São Paulo tem de tudo, aqui é só pedir e aparece num piscar de olhos.

Tudo de indiano que aprendi foi com a Meeta Ravindra. Ia para a casa dela em São Bernardo e fazíamos juntas o almoço do marido e dos filhos. E ela trabalhava com muito gosto e simplicidade, moldava os chapatis quase na hora, redondinhos, o meu era sempre um mapa de algum lugar, ora se espichava de um lado ora do outro, na impossibilidade do redondo.

Um dia ela encostou um tempero no meu nariz e pediu que eu respirasse fundo. Era assafétida e eu gostei. "Já é uma indiana", disse ela baixinho, para meu orgulho.

Bom, vamos nos adiantando, a portuguesa não há de entender nada, mas vai gostar dos garam masala, da manga em pó, do tamarindo, das coalhadas, do curry de coco, de tomate, de grão de bico, só vai faltar café com chicória.

Para mim tudo isso se tornou corriqueiro, mas uma outra pessoa que veio visitar a hóspede ficou arisca com todos aqueles pozinhos, carambolas em estrelas, frutas verdes. Foi gentil, mas se contentou com uma banana. Por todos os elefantes da Índia! Para mim cai tudo bem, adoro o que os indianos conseguiram, uma mistura perfeita do azedo, picante, salgado, doce.

Salada de alface e tomate? Nãaaaaao, de repolho e cebola roxa, cortados bem fininho, (o repolho também é roxo), amendoim torrado e vinagrete de laranja. Ah, um leve toque de gengibre fresco ralado.

Vamos ao Santa Luzia comprar ghee, a manteiga purificada indiana, tal qual manteiga de garrafa. E que tal uns ovos mexidos, dona hóspede?

Derrete-se a manteiga e fritam-se sementes de mostarda por um ou dois minutos,. Quando estalarem como pipoquinhas, juntar um cebola muito bem picada e deixar por uns 5 minutos.

Vai fazer falta um vermelhaço de cúrcuma, alegria! Mais um tomate picadinho, um pouco de sal, ovos batidos com um pingo de leite. É deixar no fogo médio por pouco tempo e deixar formar grumos. Na última hora uma suspeita de coentro. E acreditem, é para servir com ketchup, pois ele não passa de um chutney. Quantos ovos? Uns quatro. Os temperinhos vão todos por nossa conta, experimentando sempre.

Alguma coisa para refrescar a boca é importante. Bater no liquidificador um iogurte com um cardamomo descascado e um tico de água, só para ficar bem líquido, de beber. Tem gente que gosta com sal, tem gente que gosta com açúcar, põe um pouquinho dos dois e prove. Eu gosto mais para o doce, mas coisa leve, muito leve. E copo grande e muito gelo. Nada pode ser tão refrescante e viciante. A minha portuguesa nunca mais será a mesma.


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