Folha de S. Paulo


Presentes de viagem e de não viagem

Robson Ventura/Folhapress
AGSP- BRASILIA, 21/12/2009,DF - Brasil Revista da Hora - Fruta Tamarindo para Revista da Hora. Fotos: Robson Ventura /Folha Imagem (OUT CAPA DIARIO SP.)
Tamarindos

Messenger trabalhando no assunto presentes de comida.

Luiz Horta - Pronto, saiu meu artigo, Tuju para que todos os Hortas, Bastos e amigos fiquem felizes.

Nina - Por sinal muito boa a matéria. Parabéns. Se eu tivesse escrito uma coisa tão boa teria empinado o nariz com muito orgulho, mas não queria que lessem meu besteirol, só senti ter provavelmente perdido o meu sommelier inteligente, mas acontece.

Luiz Horta - Dona Nina tem presentinhos aqui, queremos levar aí, como está sua agenda imperial amanhã?

Nina - Meninos, recebi o recado de vocês com atraso. Só consigo explicar com o Ipad na mão. A mensagem aparece num flash na parte de cima do Ipad e some. Às vezes aparece no dia seguinte, às vezes não. Casa aberta para vocês dia e noite, Luiz Horta e Dênis Pagani.

Nina Horta - Luiz, você não vai me dar parabéns, boa sorte, alô por causa desse Jabuti?

Luiz Horta - Quer vender? Uma vez tentei comprar dois na loja da Cia das Letras, pensei que eram suportes de livros. Parabéns, você merece o Pulitzer como Jonathan Gold. Dou parabéns ao Jabuti por te escolher. Tem alguém para receber o motoboy com as coisas do México? O Dênis está à volta com os avós dele e viajaremos amanhã. Não vamos consegui ir aí hoje.

Nina - Ah, que pena. Vocês nunca estão aqui para me ajudar nos meus vexames. Pode mandar o boy, acordei agora, será que dá tempo? Que trabalhão, crianças!

Luiz Horta - Vou mandar, custa nada, é uma merreca. Vou embalar tudo e mandar, te aviso quando sair... Na volta, vamos aí.

Nina Horta - Que pena ter perdido vocês. Estou me sentindo uma vencedora do Nobel, bem velha, sem tempo para aproveitar os 3.000.000. Como a Doris Lessing de Birkenstock, sentada numa escadinha quando recebeu a notícia. Dizem que o Jabuti é bonito, lindo. Já me preocupo com alguma escada sem corrimão que não vou conseguir subir com a ciática gemendo. Se soubesse que estava concorrendo com alguém teria morrido de ansiedade. Já manjou que vou ficar aqui no quarto com labirintite, né? Ah, mas que pena. Aproveitem muito, stay away from Bataclán. Seus boas-vidas, vitelloni parisienses. E contem tudo e guardem o México para depois. Beijos, Dênis e Luiz.

Luiz Horta - Está a caminho.

Luiz Horta - Motoboy na porta.

Nina Horta - Gente, vocês têm um motoboy em cada esquina de São Paulo? Me deixem esse endereço, é a coisa que mais preciso na vida. Num raio, baixou um educado rapaz aqui com a caixa.

Luiz Horta - Chama Loggi. É a Uber dos motoboys. Você baixa o aplicativo e pede tudo que quiser que ele faça (pega na portaria, lá na rua tal) e se acompanha no mapa. É barato, dá uns R$ 30.

Nina Horta - Vamos tentar... Não muito esperta nesse setor.

Nina Horta - Ai, os presentes. Vi primeiro os ares natalinos que ainda não tinham se manifestado por aqui, no lindo e festivo embrulho. E o cartão com os afilhados felizes. Feliz Natal para vocês também e não joguem fora o app do Denis para marcar as despesas sem ultrapassá-las, golpe para sobrar mais dinheiro para os perfumes dele.

Ai, confesso que presente não se escolhe, mas um panetone Lindt... Do México? Tá, seja o que Deus quiser. Não aguentei e comi um daqueles bijus —ou leque colorido, com dentes arreganhados de sementes de abóbora. Fiquei encantada porque ninguém se lembrava disto. As sementinhas das abóboras mexicanas são mãos sabrosas e gorditas.

Tenho aqui um convite do Carlos Siffert, ele quer nos convidar para jantar, nunca mais te viu depois de casado. Vai ser bom comer a comida dele feita só para nós, não? Pedi para fazer a lista assim não misturamos eventuais desafetos. Eu também queria ver vocês, espero que não demorem nessa Parriça. Descubram carimbos, comidas jamais vistas, trinquem bécasses e seus ossinhos nos dentes, descubram becos, livros novos, Le fooding, enfim, e mandem contar, traz uma amostrinhas de perfume para mim, Denis, uso as últimas que me deu até hoje, nunca mais comprei um perfume.

E, sabe, me ofereceram para escrever no Turismo, aceitei alacremente, feliz da vida, de olho no cobrinhos, e só quando desliguei me dei conta que pra escrever sobre viagens há que viajar.

Luiz, você deve saber de algum livro que fale sobre viagens em abstrato, como flâner em Paris, como fazer a mala, como visitar ou não museus, alguma coisa que se possa fazer sentada em poltrona confortável. Tudo tarefa para pensar em Paris.

Bem, meninos, vou curtir meus presentes esperando El Niño, e os anos mais quentes da humanidade com gases poluentes, efeito estufa e 51 graus. Ah, essa imprensa, só vamos escutar isso pelo verão inteiro alardeado por mulheres fanhosas e sem assunto, muito além de Marrakesh.

Luiz Horta - Aqui no México não é lugar para fracos, tudo te agride um pouco, o ar poluído, o barulho. 24 horas de barulho e buzina. O trânsito brutal. E a secura, a mumificação em vida, não há umidade, seu corpo vai secando, olhos, garganta. O México é uma forma branda de doença. Estou gostando como gostei da Africa do Sul, sabendo que vou mesmo é para a Europa. Não moraria nunca aqui.

Como um menu do Quintonil, que deixou todo mundo que conhecemos no chinelo. Estou gostando daqui, mas estou nos Jardins, em Polanco, apartamento confortabilíssimo, ruas seguras, carro pra todo lado.

Nina Horta - O tamarindo acho que vou deixar para fabricar um verdadeiro piriri no dia do Jabuti. Adoro. Os doces não conhecia, mas vi fotos no mercado. Não reconheci a fruta grande, abóbora grande, uma cidra, não descobri. Não era panetone, gracias e espero que o tamarindo tenha pimenta.

Se não tiver eu ponho. Muita gentileza de vocês, prometo pensar um presente de não-viagem quando chegarem de volta. Escuto pela TV que vão se livrar do pior verão de todos os tempos. Êêêê, Luiz, tudo que você queria na vida, não é?

Gostei demais, me impressionou muito, sei lá o porquê. Carregando nas costas todo um passado cheio de deuses e vulcões. E engraçado que o artesanato seja bonito, quando andei por aí era tudo horrendo e kitsch! Imagine que não consegui comprar nada. Yo! Yo!

Luiz Horta - A fruta chama camote, a abóbora branca.

Luiz Horta - Informação errada, dona Bete acaba de corrigir, fruta branca e chilacaiote.

Nina - Eu falei que era abóbora branca, Chila, vocês nem prestam atenção só comem. Camote é batata-doce.

Obrigada, obrigada, coração quente pelo carinho, e não achei os presentes simples comidas toscas, de rua, Tudo que vem de lá me cheira a vulcões em vias de estourar, serpientes emplumadas, pacuchos...


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