Folha de S. Paulo


Mesmo que sem querer

O nosso assunto ultimamente tem sido o porquê de escrever sobre comida. Um ensaísta do "New York Times" nos ajuda, dessa vez. Aliás, existe alguém que não esteja escrevendo sobre comida? Ultimamente a impressão é que a moda pegou para sempre.

Conversamos sobre esse assunto na mesa, na praça, no escritório, no restaurante, nas revistas, jornais, nos blogs e no Face.

Temos lido um pouco de cada escritor famoso e chegamos à conclusão que a nossa vida de comedores é tão importante quanto qualquer outra.

Vocês conhecem o Mark Kurlanski? É contemporâneo e diz "Falar de comida é tocar em muitos assuntos". E vai enumerando —agricultura, ecologia, relação homem-natureza, clima, civilização, amigos e inimigos, guerra, religião, memórias, tradição e às vezes até sobre sexo.

E MK Fisher, escritora maravilhosa que não saberei traduzir com a mesma graça. "Me parece que as três necessidades básicas, comida, segurança e amor, são tão misturadas que não consigo pensar em uma sem pensar na outra. De modo que quando escrevo sobre fome, desejo, na verdade escrevo sobre amor e carência... e afinal é tudo a mesma coisa."

E qual o problema de se falar em comida sem trazer à baila todo o resto? Qual o problema?

Não tem uma hora em que comida é só comida? Não tem jeito, olhem aí o Mark Kulanski, sobre alguma dessas coisas estaremos falando. Mesmo que sem querer. Faz parte da aventura humana.

Se você se atém só a um aspecto, como comida como remédio, por exemplo, estará empobrecendo o assunto. Comida não é só saúde, e aí entra Pollan. "Comida é prazer, comunicação, família e espiritualidade, relacionamento com o mundo natural, expressão de identidade. Desde que os primeiros homens compartilharam uma refeição o assunto se tornou muito mais cultural do que biológico."

Não vamos eliminar as receitas. São importantes, redutoras, mas importantes. Nossas vidas serão mais plenas sabendo as histórias das comidas do que simplesmente contando suas calorias.

Agora, façam um favor: mandem aqui para o Face a lembrança de uma comida que te agradou ou desagradou sobremaneira. Qualquer coisa, duas linhas bastam, pode ser um Bis, um sanduíche de ovo frito, o fundo da sua lancheira, tanto faz, vamos brincar de escrever sobre comida.


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