Folha de S. Paulo


Hollywood tropeça ao voltar ao jornalismo com 'The Post'

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O diretor Steven Spielberg e os protagonistas Tom Hanks e Meryl Streep entraram despreparados para a "junket" (entrevista em série) com Husam Sam Asi, que trabalha para a BBC, a chinesa Tencent e o jornal pan-árabe "Al Quds".

Ele perguntou se Snowden, que vazou os documentos da NSA e foi perseguido por Obama, é traidor ou um herói como Ellsberg, que no filme "The Post" vaza os Papéis do Pentágono e é perseguido por Nixon.

Spielberg e Hanks, irritados, se negaram a responder. Streep resistiu, mas acabou aceitando a comparação.

O próprio Ellsberg, hoje 86 e lançando as suas memórias do caso de 1971, descreve Snowden como um de seus heróis, ao lado de Chelsea Manning, em entrevista ao "Democracy Now".

Mas os problemas de "The Post" vão muito além.

O "New York Times", que deu o furo dos Papéis do Pentágono, não esconde mais a aversão ao filme de Spielberg —que tenta vincular seu furo histórico ao concorrente "Washington Post".

No dia de Natal, além de produzir um longo vídeo e anunciar em página inteira um livro reunindo a cobertura do caso (acima), o "NYT" publicou coluna de Jim Rutenberg questionando a "licença dramática" que o filme adota contra o publisher do jornal à época, Arthur O. Sulzberger, acusado de só publicar os papéis após pressão de um editor.

O principal repórter no caso, Neil Sheehan, 81, diz que na verdade Sulzberger tomou "sozinho" a decisão de enfrentar o veto governamental à publicação. E estabeleceu o precedente histórico nos EUA, só depois seguido pela publisher do "WP", representada por Meryl Streep.

BILHÕES

No México, segundo reportagem de primeira página do mesmo "NYT", o governo do presidente Peña Nieto "usa bilhões para controlar o jornalismo", assim como "líderes de todos os partidos" com os respectivos governos estaduais, através de publicidade e também "propinas" diretas aos jornalistas.

'FALSO RUMOR'

No dia 22, a jornalista peruana Rosa María Palacios afirmou que "não há nenhum indulto em andamento para Fujimori", como lhe assegurou "o próprio presidente" Kuczynski. E acrescentou: "Espero pôr fim a esse falso rumor".

No dia 24, veio o indulto e Palacios, que até então vinha defendendo o presidente do "golpe de Estado com roupagem institucional" no Congresso, afirmou: "O presidente mentiu para mim".

Como Kuczynski, também ela está agora sob fogo.

SEM VOLTA

O "Wall Street Journal", que noticiou a negociação entre as direções de Boeing e Embraer para a compra da brasileira, registrou sem maior atenção a aparente resistência do governo brasileiro.

Já o "Financial Times" detalhou não só o freio de Michel Temer, depois de se ver acusado de "entreguista", mas como o negócio já estava avançado, com a Boeing buscando "aquisição total" por serem empresas complementares —e prometendo tratar a produção militar como "sacrossanta".

Embora contido, o negócio, segundo um analista da consultoria Prospectiva no "FT", "é inexorável".


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