Folha de S. Paulo


Temer viaja para vendas na China; em editorial, 'FT' questiona privatização

Michel Temer, ao embarcar para a cúpula dos Brics na China, deixou aqui o pior rombo da história, que a Reuters despachou como "inesperado".

Antes, ele falou à CCTV, a maior rede chinesa, ecoando mundo afora : "Quero levar [ao presidente Xi Jinping] a notícia dos 57 setores que vamos conceder à iniciativa privada. E esperamos que a China possa se interessar, possa trazer capital para o Brasil. Para nós seria muito útil".

Por outro lado, o "Financial Times" publicou editorial contra o "otimismo" dos investidores com o esforço privatista do Brasil. Primeiro, porque é "pouco tempo", com a eleição em outubro de 2018, para uma venda "complexa" de ativos como a Eletrobras e outros.

Segundo, o jornal inglês critica os "motivos fiscais urgentes" para as privatizações, ou seja, o rombo: "É economia pobre usar vendas de ativos únicos para cobrir despesas recorrentes".

O terceiro problema "é a falta de apoio popular", alerta: "O ceticismo público com o esforço privatista, já explorado pela oposição e por sindicatos, poderia empurrar ainda mais o Brasil numa direção populista nas eleições."

Reprodução
No 'Financial Times', ilustração sobre o Brasil sem a 'ordem liberal'

FHC LÁ

O editorial do "FT" coincidiu com uma coluna escrita por Gideon Rachman a partir de uma conversa com FHC.

Com a ilustração acima, o colunista afirma que "a situação do Brasil é sintoma da crise global na ordem liberal", com uma "polarização amarga" que fez ascender Jair Bolsonaro. Por outro lado, "na esquerda argumentam que tanto Lula como Dilma são vítimas de um golpe ilegítimo de um establishment de direita".

Já o ex-presidente, "agora 86 anos", representaria "uma era em que os tecnocratas e acadêmicos estavam no controle" e indica que "os liberais brasileiros não estão prontos para aceitar a derrota".

'CONSISTENTE'

A agência chinesa Xinhua, em análise, sublinha que, "de Lula a Rousseff e a Temer, as mudanças políticas" não afetaram "a consistente atitude brasileira em relação ao mecanismo de cooperação dos Brics".

E o "South China Morning Post", de Hong Kong, noticia que, com a retirada de soldados dos dois lados da fronteira sino-indiana, o primeiro-ministro da Índia confirmou presença na cúpula dos Brics. O jornal de Jack Ma, dono do Alibaba, ironiza a cobertura do fim do conflito na China continental e na Índia —com proclamações divergentes de vitória.

BRICS PLUS

O canal de notícias chinês CGTN afirma que um dos principais temas da cúpula é que "os Brics se tornam Brics Plus pela primeira vez". Aos cambaleantes Brasil, Rússia, Índia e África do Sul somam-se cinco novos países convidados pela China, inclusive o México.


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