Folha de S. Paulo


Audiência agora é uma questão relativa

Ao deixar o comando da publicidade do governo federal –o maior anunciante brasileiro– a ex-ministra Helena Chagas se defendeu on-line, dizendo ter levado "em conta critérios de audiência e regionalização". Em outras palavras, foi mídia técnica, até "republicana".

No post, de um mês atrás, Chagas sublinhou que em 2013, em alta, "a internet representou 10% do investimento" federal em publicidade. Mais importante, ela deixou uma pergunta no ar: "A meta para 2014 é (ainda é?) 15%".

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A pesquisa Ibope recém-divulgada pela Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência, agora sob comando de Thomas Traumann, realizada para servir de base à mídia técnica, parece capaz de embasar qualquer coisa, na verdade.

Por exemplo, para o Blog do Planalto "68% afirmaram conhecer" o programa A Voz do Brasil e, deles, "50% avaliaram seu conteúdo como ótimo ou bom". Já para o "Estado" a pesquisa "constatou que 66% dos brasileiros nunca ouviram o programa".

É só escolher o número. Tem para todos os gostos.

Outro exemplo. No início da cobertura, sexta, a notícia era que o "brasileiro fica mais tempo na internet do que vendo TV". Dia seguinte, já se enfatizava que o telejornalismo atraiu a atenção de 77,5%" dos supostos brasileiros e, deles, "45% sintonizam o 'Jornal Nacional'".

Ou seja, revogam-se os números do mesmo Ibope, que apontaram queda de 39,8 para 26,1 pontos em dez anos na audiência do mesmo "Jornal Nacional". E justifica-se a mídia técnica que mantém a publicidade em alta, apesar de audiência em queda.

Daí a importância da pergunta de Chagas, neste ano eleitoral, sobre o investimento publicitário em internet, concorrente da televisão: "A meta para 2014 é (ainda é?) de 15%".

Na divulgação da pesquisa, Traumann afirmou que os critérios de divisão do dinheiro não vão mudar: "Os critérios são os que já existem e já estão sendo adotados desde 2008. São critérios técnicos".

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Registre-se a observação de um executivo de televisão há dois anos, ao ser questionado sobre o bônus por volume, que ele apontou como responsável, em parte, pelas distorções no mercado (audiência cai, publicidade sobe):

"Por incrível que pareça, depois de questionamentos do TCU sobre BV na veiculação das estatais e do governo federal, legalizou-se o BV, junto à Secom do Franklin Martins, sob o nome pomposo de Plano de Incentivo. Se isso não houvesse acontecido, as regras do mercado teriam que, necessariamente, se modernizar. O Franklin bem que poderia explicar essa decisão."


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