Folha de S. Paulo


Alerta de tsunami

Semanas atrás, em reunião na Globo, segundo relato de um dos presentes, a imagem usada para descrever o momento da TV aberta foi de um tsunami. Mais precisamente, o alerta foi para a onda, que já teria se levantado.

Até ela bater, será preciso manter o barco firme. Ou pelo menos manter a impressão de estabilidade, ainda que à base de "ficção".

Foi o que fez a maior rede brasileira no final da novela das oito, hoje nove, seu principal produto. Bombardeou sua audiência e outras com mensagens buscando transformar um fracasso em sucesso, na ironia de Ricardo Feltrin.

Desta vez não foi possível achar a expressão "recorde", mas o fato é que a novela que deveria puxar a audiência do "Jornal Nacional" registrou a menor audiência na história.

Para sufocar a realidade com ficção, espalham-se números outros, de "trending topics", de Facebook, de e-mails, o que for.

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O momento é o mesmo, na TV americana. Este é o mês em que se apresenta ao mercado publicitário a nova temporada, que começa no segundo semestre, pós-férias de verão.

Na ironia de Brian Stelter, as redes CBS, Fox, NBC e ABC se dizem "o melhor meio para atingir todos os americanos, de todas as idades", para "vender sabonete e refrigerante para o país inteiro".

Mais revelador é "o que elas não dizem: a audiência da TV aberta sofreu na atual temporada sua queda mais acentuada entre todas as temporadas na história".

Segundo dados reunidos pelo Goldman Sachs, a audiência da TV aberta na faixa de 18 a 49 anos caiu 17% no último inverno americano, em relação ao anterior. "O ritmo mais acentuado de que se tem registro", diz o banco.

Lá como cá, além da TV paga, o problema da TV aberta está na crescente concorrência dos serviços de programas e filmes pela internet, como Netflix.

Mas o Brasil é peculiar. No momento em que a onda se levanta, a Ancine decide chamar o Netflix "para uma conversa", visando futura "regulamentação do setor", na descrição de Lauro Jardim.


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