Folha de S. Paulo


Agências, agências, agências

Em meio à tortura em praça pública das agências americanas Associated Press e Bloomberg, a melhor tirada é de Matt Yglesias, da Salon, sobre a concorrente britânica de ambas:

"A Reuters é aquele serviço noticioso no ponto ideal de não ser espionado nem espionar."

Não é um simples jogo de palavras. Quando a AP é espionada pelo governo americano, não são apenas seus jornalistas que se veem expostos, mas também as suas fontes. E quando a Bloomberg espiona seus clientes ela está espionando as suas próprias fontes.

A Reuters está no ponto ideal de garantir a preservação da fonte. E de cobrir as concorrentes com precisão, em despachos aqui e aqui.

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A espionagem da AP pelo Departamento de Justiça foi noticiada pela primeira vez ontem pela própria agência _que é mantida em forma de cooperativa por dezenas de jornais americanos, entre eles o "New York Times".

No enunciado, "Governo obtém amplos registros de telefonemas da AP em investigação". Foram dois meses inteiros de ligações.

Em carta ao secretário de Justiça, a presidente da AP reclamou que "não é possível haver qualquer justificativa para tamanha coleção de comunicações telefônicas", inclusive com "fontes confidenciais presentes em todas as atividades de coleta de informação".

Não demorou para ecoar on-line, com jornais e jornalistas criticando o governo via Twitter e posts. Foi o caso de Ben Smith, do BuzzFeed, ex-simpatizante de Barack Obama que agora o compara a Richard Nixon, pelo desrespeito à privacidade.

Ato contínuo, muitos passaram a lembrar via Twitter o silêncio dos mesmos jornais e jornalistas quando Obama e o Departamento de Justiça iniciaram a perseguição ao WikiLeaks, em tudo semelhante.

Para Trevor Timm, da Electronic Frontier Foundation, "a Casa Branca criou esse monstro da 'guerra contra os vazamentos', o Congresso encorajou, a imprensa pouco protestou: agora está fora de controle. E de Gary Lord, ligado ao WikiLeaks, parafraseando Martin Niemoller sobre a ascensão do nazismo:

"Primeiro eles vieram pelo WikiLeaks, e a AP não protestou porque não estava na lista de alvos do Departamento de Justiça..."

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Já a espionagem dos clientes pela própria Bloomberg foi noticiada na sexta-feira pelo "New York Post", tablóide de Rupert Murdoch, também dono da agência concorrente Dow Jones.

O editor-chefe da Bloomberg reconheceu dois dias depois o "erro indesculpável. E o CEO relatou ontem que ele "pessoalmente" e seus executivos já haviam telefonado para mais de 300 clientes pedindo "desculpas por nosso erro.

Mas "a reportagem matadora, na descrição do analista de mídia Jack Shafer, da Reuters, ainda estava por vir, na capa do "Financial Times" de hoje. Abrindo o texto:

"Mais de dez mil mensagens privadas trocadas entre usuários dos terminais Bloomberg vazaram on-line, minando os esforços da empresa para recuperar a confiança em sua capacidade de manter confidenciais as informações de seus clientes."

Em tempo: questionada, a Bloomberg afirmou não ter informação de casos de espionagem de clientes no Brasil.


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