Folha de S. Paulo


A Globo perde

Regina Augusto, do "Meio & Mensagem", escreveu um enunciado que há muito se aguardava, diante da queda intermitente na audiência da maior rede brasileira: "TV Globo perde share na verba federal"

Destacando ser a primeira vez que se revelam os valores destinados a cada televisão, Fernando Rodrigues aprimora o enunciado: "Cai fatia da Globo na publicidade federal".

Foram 11 pontos de queda na participação da Globo nos gastos do governo com TV aberta, de 55% em 2000 para 44% em 2012. No período, o share atingiu o pico de 61% em 2003 e marcou a sua menor taxa, 42%, em 2011.

Ainda não são os gastos totais com publicidade no Brasil, nos quais a Globo se mantém estável --segundo fontes do setor, pelo uso de mecanismos como o bônus por volume e pela própria defasagem do levantamento privado.

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, que divulgou os dados, não esconde que um dos motivos que levaram à redução na participação ao longo desta última década foi o Ibope.

"Isso é reflexo da mudança do perfil de audiência do país", justificou Roberto Bocorny Messias, secretário-executivo da Secom, citado pelo "M&M", em artigo postado no Observatório da Imprensa, ligado à estatal TV Brasil.

Registre-se, de passagem, que os dados servem para a Secom se defender de críticas, do próprio partido no governo, de que direciona recursos demais à Globo, rede que apoia os seus adversários desde a redemocratização.

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Em entrevista a Silvana Arantes, o produtor e diretor Fernando Meirelles destaca a "queda suave" de audiência da televisão, que não permitirá mais "essa coisa de eu-falo-para-todo-o-Brasil".

Questionado se a influência política da Globo tende a diminuir, ele respondeu que demora, "mas eles estão se ajustando para uma queda", porque "sabem que não vão conseguir ter uma máquina daquele tamanho".

Entre outros ajustes, buscam parceiros. Lauro Jardim, da "Veja", diz que a Globo negocia com o mexicano Carlos Slim "uma parceria na compra de emissoras de televisão em vários países da América Latina".

No Brasil, com a mudança na legislação de propriedade de TV paga no ano passado, ele formalizou a compra do controle da Net da mesma Globo e hoje mantém a brasileira como sócia minoritária.

Slim se tornou o homem mais rico do mundo após adquirir o monopólio estatal de telefonia no México, na privatização feita pelo então presidente, seu amigo, e agora será beneficiado por nova abertura do setor.

O Congresso mexicano acaba de aprovar nova reforma "antimonopólio" no país, visando não só Slim, em telefonia, mas Emilio Azcarraga (Televisa) e Ridardo Salinas (Azteca) em televisão.

Em vez de perder valor na Bolsa, com a votação, Slim ganhou, porque agora vai poder investir também em televisão, o que pretende fazer não só no México, mas em outros países latino-americanos --com a Globo a tiracolo.

No mesmo dia da votação, ele comprou os direitos dos Jogos do Rio "para toda a América Latina, com a exceção do Brasil". No dizer da "Forbes", será sua moeda de troca para entrar no mercado de televisão.

PS - Em tempo: em 2012, a média diária de audiência da Globo na Grande SP foi de 14,7 pontos; em 2011, 16,3.


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