Folha de S. Paulo


O México por modelo

A Argentina fez a sua lei. Também a Bolívia, com o mesmo propósito de romper oligopólios de radiodifusão e distribuir canais à sociedade civil.

O Uruguai prepara a sua, ainda mais profunda, no dizer do relator especial para liberdade de expressão da ONU, Frank La Rue Até o Chile pode receber a sua, se Michele Bachelet voltar.

"Como a América Latina teve um desenvolvimento errado nas políticas comerciais de comunicação, é muito importante reverter", defendeu o relator. Mas a surpresa é o México, agora.

O "Wall Street Journal" noticia que o governo do PRI está prestes a fechar acordo com os oposicionistas PRD, à esq., e PAN, à dir., para quebrar o duopólio das redes Televisa e Azteca.

É quase inimaginável, como se PT e PSDB se juntassem a um governo do PMDB, para conceder mais duas redes privadas e uma terceira, estatal, desafiando assim o virtual monopólio no Brasil.

O jornal ouviu fontes dos três partidos mexicanos e garantiu que está perto --e que não para na TV. O alvo maior é o homem mais rico do mundo, Carlos Slim, que impera na telefonia.

É parte de um movimento maior de reforma no país, que vem recebendo apoio de todo lado. EUA inclusive, porque envolve abrir setores como o petróleo às multinacionais.

No caso, trata-se de abrir as telecomunicações às multinacionais e quem mais quiser, para diminuir o controle de Slim sobre 75% da telefonia fixa e 70% da móvel.

Slim chegou a tanto após receber há mais de 20 anos, do governo de seu amigo Carlos Salinas, do mesmo PRI, a estatal Telmex, que pagou aos poucos, com os lucros da mesma.

Foi também Salinas quem privatizou a rede Azteca, para outro amigo. Depois correu para o exílio, em meio a escândalos financeiros e assassinatos envolvendo sua família.

Se o "WSJ" e o "Financial Times" estiverem certos, o mesmo PRI que comandou as privatizações dos anos 90, com acusações de favorecimento de toda ordem, vai corrigir o estrago.

E vai estabelecer o novo modelo das telecomunicações no continente, papel que Frank La Rue antevia para o Brasil, mas que governo e grandes partidos, por aqui, temem sequer mencionar.

Curiosamente, se não tem vez por aqui, o tema cresce nos EUA, como ontem no "Los Angeles Times", que ecoou a crítica da organização Repórteres Without Borders à concentração do setor no Brasil.


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