Folha de S. Paulo


Racha pode levar eleição em SP a disputa inédita entre direita e direita

Em campanha, não basta fazer tudo certinho. É imprescindível errar pouco e, acima de tudo, ter sorte.

Sem isso, um almofadinha desconhecido do eleitorado e renegado por parcela de seu próprio partido, o PSDB, não teria chegado tão rápido à condição de favorito na disputa em São Paulo.

João Doria -espécie de aventura eleitoral de Geraldo Alckmin- cresceu aos saltos na capital. No Datafolha de 24 de agosto, tinha 5% das intenções de voto.

Quinze dias depois, 8 de setembro, pulou para a terceira posição -16%. Cresceu às custas da exploração da imagem do antipolítico.

Àquela altura, a corrida estava embolada entre Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB). Fernando Haddad (PT) aparecia enguiçado na quarta posição.

Apesar do forte crescimento, Doria passava incólume pela artilharia inimiga. Foi poupado do começo ao fim -fruto da tese errada de que não se ataca oponente que está no terceiro lugar.

Russomanno, o primeiríssimo, surgia bem mais sólido do que em 2012, ao menos era o que se imaginava até começar a derreter. Com pouco tempo de TV, foi incapaz de desarmar as bombas dos rivais. Perdeu a dianteira.

Se chegar ao segundo turno, será muito mais pela divisão da esquerda entre três candidatos do que exatamente pelo próprio desempenho.

O racha vermelho, por sinal, pode transformar esta eleição na primeira da história da capital entre direita e direita. Trata-se de destino curioso para quem começou a campanha escondendo a estrela do PT (Haddad) e para quem disse nunca ter se colocado como uma pessoa de esquerda (Marta).

Marta não poupou Haddad nem Russomanno. Russomanno não parou de atacar Haddad.

O prefeito ia se defendendo no que podia, enquanto João Doria ia passeando livre, leve e solto pelos comerciais de TV, sem resistências.

Suas fragilidades foram quase todas deixadas de lado: patrocínios públicos discutíveis, apoio escancarado da máquina do Estado, negócios mal explicados, área invadida em Campos do Jordão.

Sob as barbas dos rivais, Doria foi fazendo uma campanha "positiva", para cima, aquela que ataca pouco os oponentes e vende muito a biografia do candidato. Mesmo quando estava lá atrás, portava-se como se estivesse à frente.

Buscou se distanciar do figurino do político profissional e evitou brigas com os adversários, cenas de pugilato que o eleitor adora ver, mas detesta votar em quem as protagoniza.
Já na terceira pesquisa Datafolha, apurada em 21 de setembro, chega aos 25%, atingindo o primeiro lugar numérico da corrida eleitoral.

O curioso é que se João Doria tivesse parado no segundo lugar por um tempo, teria se transformado em comida para os leões. Teve a sorte de despontar logo na primeira posição, deixando a guerra pela segunda vaga para os demais. Os inimigos ficaram brigando entre si.

Há quem diga que Doria chegou até aqui como favorito porque, tal qual no futebol, deu o drible da vaca nos outros jogadores -lançou a bola para um lado e correu para o outro.

Resta saber se, de fato, conseguirá pegar a bola depois do passe. Ele sabe que, no segundo turno, não terá a sorte de passar ileso pela campanha adversária.


Endereço da página: