Folha de S. Paulo


De Renan para Cunha

Se o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), escrevesse uma carta ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele diria algo próximo a isso:

"Prezado correligionário, a pressão ficará maior a cada dia.

Ela começará pequena, com os partidos de esquerda pedindo seu afastamento.

Depois, juízes, intelectuais e ONGs farão manifestos por sua saída. Políticos de peso, então, pedirão carona.

Se a crise não for debelada, aliados passarão a deixar de fotografar a seu lado dia após dia.

Todo mundo vai sumindo. E Vossa Excelência correrá o risco de, uma hora, murchar.

Seus seguidores passarão a visitá-lo à noite para não serem flagrados pela imprensa entrando na sua casa.

Depois, ao sair de sua residência, alguns dirão confidencialmente a jornalistas que tentaram, sem sucesso, convencê-lo a renunciar.

Precisará vender a ideia de normalidade na Câmara para conseguir se manter no cargo, pois quando se perde o controle da rotina, a contestação cresce no plenário.

Se tentar se proteger pelo biombo da instituição, poderá agravar sua estabilidade no cargo.

Lembre-se dos colegas que passaram por calvário semelhante. Antônio Carlos Magalhães, Severino Cavalcanti, Demóstenes Torres. E por aí vai.

Resistir nem sempre é fácil.

No meu caso, fui acusado pela imprensa de ter despesas pessoais pagas por um empreiteiro. No seu, é o Ministério Público quem denuncia.

Não é fácil resistir. Mas também não é impossível."


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