Folha de S. Paulo


Algum ajuste não é 'tarifaço'

Alguém, neste planeta, acha mesmo que uma presidente como Dilma Rousseff fará um aumento abrupto e forte nos preços administrados para dar a resposta que o mercado tanto deseja?

Quem aposta nessa alternativa tende a errar em cheio. Vamos aos pontos:

1) Dilma não tem por hábito reconhecer erros, portanto não julga ter cometido pecado algum ao optar segurar os preços monitorados para cercar a inflação, sobretudo em ano eleitoral.

2) Dilma acredita que a Petrobras tenha de absorver oscilações na cotação internacional do barril e não repassá-las ao consumidor.

3) Economista, ela interfere em todos os assuntos de forma direta como se fosse chefe da Petrobras, presidente do BNDES e ministra de suas 39 pastas, incluído aí até mesmo o Banco Central. A paixão pelo controle não é mera lenda urbana.

4) A presidente, por outro lado, considera de forma veemente que a estatal não sofreria tanto problema de caixa se tivesse aumentado de maneira satisfatória sua produção de petróleo nos últimos anos. Mais: vê a empresa como ativo nacional, não somente um empreendimento privado.

5) No entendimento do governo, a tarifa de energia JÁ está subindo, desconstruindo o argumento de que será preciso ser muito mais duro na conta de luz a partir de 2015.

6) Dilma não aposta em estiagem no ano que vem. Em conversa recente, afirmou ser raríssimo ter três anos seguidos de poucas chuvas, e nós já vamos para o terceiro.

7) Dilma, se reconduzida ao cargo, não dá sinais de querer em sua biografia críticas de estelionato eleitoral, vendendo um mundo bonito agora para, depois de outubro, surpreender o eleitorado com uma paulada nas contas de luz e nas bombas de gasolina.

Então, caros, algum ajuste pode até haver. Mas quem espera um "tarifaço", ficará feito Godot, aguardando algo que nunca virá.


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