Folha de S. Paulo


Show dos Milhões

A corrida eleitoral ainda não começou oficialmente, mas as campanhas já estão nas ruas caçando aquilo que é essencial para ser competitivo numa disputa nacional.

Se você respondeu "o voto", errou em cheio. Trata-se de dinheiro mesmo, e aos montes.

Nos bastidores, os rumores sobre o quanto custará a competição pelas urnas de outubro já começaram. As apostas são altas.

O incrível é que, reservadamente, políticos experientes de fora dos três principais times (PT, PSDB e PSB) fazem suas próprias estimativas "considerando o gasto total". "Tudo o que entra por dentro e por fora", explicou
um deles, falando em tese.

No Brasil, contas verdadeiras comunicadas à Justiça Eleitoral costumavam ser exceção, não regra, infelizmente. Não há sinal de que, com esta que se aproxima, será muito diferente.

Não por acaso, há anos reina a brincadeira nos corredores de Brasília: "nem Jesus se livraria fácil do pecado do caixa dois."

Aos jornais, PT, PSB e PSDB já afirmaram que a receita global de suas campanhas presidenciais deve ficar perto dos R$ 500 milhões. Se a estimativa for essa, e verdadeira, significa que o voto, em outubro, custará R$ 3,5. Com os nanicos, o preço sobe.

Boa parte dos recursos vai para a rubrica "comunicação": pagamento de equipes, produção da identidade visual da campanha e, claro, o cachê do marqueteiro, figura mítica das campanhas no Brasil.

Quando se tem dinheiro, o guru da TV pode recolher, para si, cifras que rondam os R$ 10 milhões; às vezes mais.

No mensalão, publicitário Duda Mendonça afirmou na CPI ter recebido R$ 10 milhões de Marcos Valério por meio de uma conta no exterior para pagamento de dívida de campanha. Ali, não deixou claro para o que se destinava essa monta.

Com tanta necessidade de dinheiro, o eleitor deveria se perguntar, e perguntar a seu candidato: quem doa? E qual o interesse de quem doa?

A não ser em casos de caridade, um cidadão empresta dinheiro a outro esperando recebê-lo de volta. Ou em espécie, ou em favor.

Enquanto se pagar tão caro pelo voto no país, mais se exigirá das empresas, e mais empresas cobrarão contrapartida dos governantes e seus partidos.

Em 2010, a equipe da petista Dilma Rousseff declarou arrecadação de R$ 135,5 milhões. O tucano José Serra, de R$ 106,5 milhões. E a verde Marina Silva, de R$ 24,1 milhões.

Há 4 anos, portanto, o voto valia R$ 1,9 real, contando todos os eleitores aptos a marcar o número do candidato na urna. Com correção inflacionária de lá para cá, algo hoje por volta de R$ 2,37.

Mesmo se ficarem somente no "por dentro", os gastos crescerão. Significa inferir que a dependência e comprometimento do político em relação a seu financiador tende a subir na mesma proporção.


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