Folha de S. Paulo


Cândido

Aparecido preparou o churrasco. Na travessa, carne bovina, costela de porco e um suculento carneiro, especialidade do garçom presidencial elogiada pela maioria dos dez comensais.
À mesa, um seleto grupo traçava o cenário eleitoral de 2014 na área gourmet da Granja do Torto. A data, sexta-feira, 13, era sombria; o diagnostico, não.

Ali, ministros, petistas e colaboradores desenharam um futuro promissor diante da anfitriã, Dilma Rousseff.

O local, a cena e os convidados remontavam os descontraídos convescotes dos tempos de Lula, usuário frequente da Granja em seus oito anos de mandato.

Sob o olhar da presidente, muitos comemoravam, em diferentes modulações, parte dos pontos recuperados de sua popularidade, a "melhora do quadro econômico", o "sucesso do Mais Médicos", as limitações dos adversários, a "resposta às ruas".

Quem vislumbrou certos desafios até outubro do ano que vem foi ofuscado pela fala do ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

O tom, de tão positivo, deixaria Cândido, o personagem otimista de Voltaire, mordendo os lábios de inveja.

Entusiasmo assim, só mesmo quando era líder do governo no Senado. Defendia com tal empenho as conquistas do governo petista anterior que repetia, em ritual quase diário, uma infinidade de indicadores econômicos. Tanto que, à época, ganhou dos jornalistas o apelido bem humorado de "Mercadados".

Na reunião do Torto, coube a Lula levantar uma preocupação. Era preciso parar de tratar o governador Eduardo Campos (PSB-PE) "com o fígado". Todos deram ouvidos, só que o conselho chegou tarde. O aliado despediu-se antes da Esplanada. Foi parar no "outro lado".

Afora um ou outro alerta, o que ficou daquela reunião da sexta-feira, 13, foi o otimismo com uma campanha que muitos, inclusive alguns daqueles presentes, julgam, em privado, mais difícil que o dito ali.

Do encontro, aliás, ficou também outra coisa. Mercadante recebeu, desta vez dos próprios colegas, nova alcunha: "Mercacândido".


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