Folha de S. Paulo


Doria tem uma nova chance de mostrar que pode ser um gestor público

Evaristo Sá/AFP
Sao Paulo's Governor Geraldo Alckmin (R) and Sao Paulo City's Mayor Joao Doria greet each other during national convention of the Brazilian Social Democratic Party (PSDB), in Brasilia, on December 9, 2017.The PSDB convention overwhelmingly elected Alckmin as its leader -- voting 470 to three -- effectively launching him as the party's candidate for the October 2018 polls. / AFP PHOTO / EVARISTO SA ORG XMIT: ESA1080
O prefeito de São Paulo, João Doria, com o governador do Estado, Geraldo Alckmin

Depois de 11 meses na prefeitura tentando, com ações midiáticas, ser candidato à Presidência, João Doria rendeu-se ao óbvio. Como escrevi na estreia dessa coluna, "Para ir de SP a Brasília, Doria precisa de mais do que marketing pessoal" (18/4), nenhum prefeito paulistano transitou diretamente para a Presidência.

No artigo alertava: "Para gerir uma das cidades mais complexas do mundo, enfrentando seus reais problemas, Doria precisa mostrar mais do que marketing pessoal (...). Isso pode garantir momentânea popularidade, mas é efêmero".

Em abril, Doria estava com 44% de ótimo e bom e uma reprovação de 20%. Ao invés de se concentrar na cidade, fez 43 viagens, em dias de trabalho, para se promover, achando que "fake news" era suficiente para gerir a maior administração municipal do mundo.

Aproveitou uma operação da PM, não planejada por ele, para declarar que a cracolândia tinha acabado(!). Demitiu uma secretária com transmissão pelo Facebook e um secretário que denunciou corrupção em sua pasta. Lançou uma farinata...

Fez propaganda em estádios de futebol de outros Estados e países, paga por uma empresa que era promovida por ele. Adotou postura agressiva contra jornalistas que questionavam qualquer aspecto de sua gestão. Desprezou estudos técnicos, recomendações de organismos internacionais e a própria legislação do município.

Propôs um plano com metas propositadamente baixas para cumpri-las sem dificuldades e depois divulgar que foi bem-sucedido. Fez uma divulgação midiática do Cidade Linda, uma importante ação de zeladoria, mas que deve ser cotidiana e não uma operação especial.

A situação se inverteu. O Datafolha mostrou uma reprovação de 39% e aprovação de apenas 29%. Desempenho que não é pior porque 45% dos ricos, que não usam serviços municipais, mas que se identificam com a ideologia do prefeito, aprovam a gestão.

Agora tenta ser candidato a governador, repetindo o que fizeram, com sucesso, no segundo ano do mandato, Jânio Quadros (1954) e José Serra (2006). Mas, após um ano, Jânio estava no auge, implantando plano de obras na periferia, planejado por seu antecessor, e Serra era aprovado por 41%.

Não é a situação do prefeito, que interrompeu planos, programas e obras de seu antecessor, que iriam (e ainda podem) lhe render créditos positivos. Ao menos 67 obras estão paralisadas.

Se, com humildade, descer do palanque midiático, com a clareza que gestão pública é um campo de conhecimento com procedimentos e instrumentos próprios, exigindo planejamento, técnica, criatividade, articulação e habilidade política, o prefeito pode ter uma segunda chance para mostrar que pode ser um bom gestor, como vendeu na campanha.


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