Folha de S. Paulo


Para ir de SP a Brasília, Doria precisa de mais do que marketing pessoal

Zanone Fraissat/Folhapress
SAO PAULO/SP BRASIL. 02/01/2017 - O prefeito de SP Joao Doria Jr comparece na Praca 14 bis na regiao central da cidade vestido de gari para dar inicio a operacao Cidade Linda.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, COTIDIANO)***EXCLUSIVO***
O prefeito de São Paulo, Joao Doria, vestido de gari para dar início à operação Cidade Linda

Frente à vala comum em que caíram os políticos mais tradicionais, o prefeito João Doria tem aparecido como uma tábua de salvação do campo conservador para enfrentar Lula, a jararaca que resiste no ambiente inóspito em que se transformou a política brasileira.

A visibilidade de São Paulo faz do seu prefeito um candidato nato a cargos mais elevados, mas a história mostra que o caminho direto entre a prefeitura e a Presidência não só não é óbvio como nunca ocorreu. Apenas o vazio de lideranças pode levar à ilusão de que um recém-empossado prefeito paulistano, que ainda não mostrou a que veio fora um marketing pessoal eficiente, chegará serenamente a Brasília.

Desde a criação do cargo, em 1899, apenas dois ex-prefeitos de São Paulo se tornaram presidentes: Washington Luís, (prefeito entre 1914 e 1919 e presidente em 1926) e Jânio Quadros (prefeito entre 1953 e 1955 e presidente em 1961). Antes de chegarem ao mais alto cargo da República, bateram ponto por quatro anos no governo do Estado e, triste coincidência, deixaram a Presidência tragicamente, um deposto pela revolução de 1930 e o outro após tentar o golpe da renúncia.

A maioria sonhou, mas ficou no meio do caminho: Ademar, Maluf, Covas e Serra foram derrotados em pleitos presidenciais; Prestes Maia, Reinaldo de Barros e Maluf perderam eleições para governador, enquanto Olavo Setubal e Marta Suplicy nem sequer conseguiram legenda partidária para entrar nessa disputa. Marta, Erundina, Maluf e Serra fracassaram nas várias vezes em que tentaram voltar à prefeitura.

Essa trajetória dá razão à afirmação do ex-prefeito Fernando Haddad: "São Paulo é um cemitério de políticos".

Para gerir uma das cidades mais complexas do mundo, enfrentando seus reais problemas, Doria precisa mostrar mais do que fantasias de trabalhador braçal, nomes pomposos de programas fictícios, bravatas contra pichadores, viagens internacionais e doações empresariais, um tanto suspeitas. Isso pode garantir momentânea popularidade, mas é efêmero.

O tímido e descosturado Programa de Metas que apresentou para São Paulo não é uma boa credencial para um político que parece pretender governar um país em crise. Voltaremos a ele.

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Entre 1985 e 1988, colaborei com a Folha em editoriais voltados aos temas urbanos. Nesses 30 anos, muito do que foi ali defendido se transformou em políticas públicas ou em marcos institucionais. Retorno à página A2, agora com textos assinados, com a disposição de mostrar que o enfrentamento da questão das cidades é essencial para a construção de um novo projeto nacional para o Brasil, indispensável no momento difícil que vivemos.


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