Folha de S. Paulo


Famosos engajados são criticados, mas atingi milhões de pessoas, diz Matt Damon

O ator Matt Damon, 46, não quer falar sobre a carreira, diz sua assessoria antes desta entrevista.

Ele está mais interessado em conversar sobre o trabalho de sua ONG, a Water.org, cujo objetivo é aumentar o acesso à água potável no mundo. A entidade oferece microempréstimos a moradores de regiões pobres para que eles mesmos conectem suas casas aos sistemas de distribuição de suas cidades.

No mês passado, a entidade anunciou que passará a atuar também no Brasil a partir de novembro, por meio de uma parceria com a marca de cerveja Stella Artois, da belgo-brasileira AB InBev. A região em que trabalharão ainda não foi definida.

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Folha - Você teve dúvidas ao fazer uma parceria da sua ONG com a indústria cervejeira, que é frequentemente criticada por gastar muita água?
Matt Damon - A água é o ingrediente mais crítico para o produto deles e acho que todas as empresas da área têm se tornado muito mais cuidadosas com esse recurso. Mas a questão da escassez da água é um outro lado do problema. Nós nos dedicamos a melhorar o acesso dos pobres ao recurso.

O presidente dos EUA, Donald Trump, completou cem dias no poder. Ele tem sido melhor ou pior do que você esperava?
É uma pergunta difícil. Fico muito preocupado com a arrogância na questão da Coreia do Norte. Eu sei que ele tem pessoas muito capazes o orientando, então, com sorte, o bom senso vai prevalecer.

Ele já disse que quer diminuir a ajuda dos EUA a países estrangeiros. Essa postura dificulta seu trabalho?
Deixando de lado a motivação moral, há argumentos práticos para investir na distribuição de água. Cada US$ 1 investido na questão, por exemplo, dá um retorno estimado de US$ 7. Ele tem pessoas inteligentes ao seu lado e já deu mostras de ser flexível. Então, acho que quando se debruçar sobre o assunto, vai se convencer de que é um bom negócio.

Alguns atores já reclamaram de não ter seu trabalho social levado a sério por serem celebridades. Isso já aconteceu com você?
É uma escolha pessoal. Eu fui criado para pensar que devemos ter um impacto positivo no mundo, independentemente do tamanho do nosso círculo de influência. O meu, por acaso, é bem grande, então tento fazer o que posso.

Eu entendo que as pessoas ironizem celebridades envolvidas em causas sociais, mas essa é uma questão importante sobre a qual passei muito tempo estudando. E consegui atingir quase 6 milhões de pessoas com a minha iniciativa. Então aceito sem problemas qualquer crítica que queiram fazer.

De todos os problemas do mundo, por que escolheu atuar no da água?
Comecei a ler sobre pobreza extrema há dez anos e fiquei surpreso em perceber como as questões da água e do saneamento meio que estavam por trás de tudo. É um problema muito grande e, ao mesmo tempo, é difícil de entender no primeiro mundo porque nós não conhecemos pessoas que não têm acesso a água limpa. Então a escala e a complexidade do problema me atraíram.

Por que fazer empréstimos em vez de pagar pela estrutura que as pessoas precisam?
Porque faz com que as pessoas participem da solução dos próprios problemas. Eu já vi países que ganharam um sistema de poço artesiano sofisticado. Mas aí ele quebra e não há nem peças nem gente treinada para consertá-lo. E o equipamento se torna inútil.

As pessoas mais pobres já pagam por água, às vezes até mais do que a classe média. Como não estão conectados com a rede de distribuição da cidade, acabam recorrendo a um vendedor ou percorrendo quilômetros todos os dias.

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