Folha de S. Paulo


'Somos um país miscigenado', diz Anitta sobre apropriação cultural

Numa casa à beira da praia de Busca Vida, litoral norte da Bahia, Anitta anda de um lado para o outro. É fim de tarde de sexta (24) e ela checa a roupa, inicia a produção da maquiagem. Dentro de algumas horas, estaria em cima de um trio elétrico, em Salvador, no Bloco das Poderosas.

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O percurso prevê um show de até seis horas –três vezes mais longo do que ela está acostumada. "É puxado. Tem que poupar a voz, falar baixinho, assim", diz Anitta ao repórter João Pedro Pitombo. No quarto, inicia a preparação vocal. Antes, aponta para a cama: "Aqui eu dormi com um bofe... meu pai".

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É a segunda vez que a cantora carioca desfila na Bahia. Desta vez, numa festa de graça para o público, contratada pelo governo do Estado por estimados R$ 160 mil.

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A cantora abaianou para o desfile, com os cabelos trançados. E diz não ter dado bola às críticas de "apropriação cultural" : "Ninguém é totalmente branco no Brasil. Somos um país miscigenado. E acho que cada um deve se vestir da forma que se sente bem".

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Com seu trio sem cordas, Anitta desfilou na sequência de Preta Gil. Com um bloco consolidado no Rio, a filha de Gilberto Gil saiu às ruas pela primeira vez com seu Bloco da Preta em Salvador.

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No dia anterior, Preta participou de um encontro de trios no Farol da Barra, remontando a uma antiga tradição do Carnaval baiano que ela viu de perto, na infância.

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"Eu ia com meus pais ver os encontros dos trios de Dodô e Osmar, Moraes Moreira e Baby", diz. A partir do ano que vem, a promessa é de uma Preta ainda mais presente na Bahia: ela assume o Camarote Expresso 2222, de Flora e Gilberto Gil.

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Pelo segundo ano consecutivo, Ivete Sangalo começou o Carnaval desfilando de graça. Enquanto ela sobe para o camarim, a produção de seu trio distribui pirulitos coloridos que remetem à canção "O Doce", música que é o tema dela para este verão.

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Coladas junto ao trio, três crianças cantam alto: "Ah, vem cá/ Não tira o doce da boca/ Da sua criança". As três carregam sacos plásticos com latinhas de cerveja vazia. A mãe as acompanha.

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Na frente e ao lado do trio, um grande logotipo do banco Bradesco. O desfile é bancado pelo governo do Estado, com recursos de patrocinadores, incluindo o Banco do Brasil, que pagou R$ 500 mil.

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Os recursos captados pelo governo, de valor não divulgado, pagarão o cachê de Ivete e de outros quatro artistas: Anitta, Saulo, Carlinhos Brown e Claudia Leitte.

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Outros R$ 3 milhões sairão do caixa estadual para pagar os outros cem artistas que participam do Carnaval.

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Do lado da prefeitura, a Ambev foi a principal patrocinadora de festa. Depois de três anos tentando furar o bloqueio que deu exclusividade às cervejas Schin e Itaipava, a gigante das bebidas se rendeu: pagou R$ 30 milhões para ter a Skol como cerveja exclusiva nas festas. Enquanto isso, no circuito do Campo Grande, pilhas de latas da cerveja Schin abasteciam o camarote do governador Rui Costa (PT).

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Em seu primeiro Carnaval como prefeito aliado do governo federal, ACM Neto (DEM) marcou presença no camarote da Caixa Econômica, que tradicionalmente era reduto dos petistas nos governos Lula e Dilma Rousseff.

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Na hora em que Ivete desfilava na Barra, o prefeito e governador, adversários políticos que devem se enfrentar na disputa pelo governo da Bahia no próximo ano, foram ao Campo Grande e acompanharam o desfile do pagodeiro Léo Santana.

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A disputa dos dois pelos holofotes foi grande. ACM Neto dizia que a Prefeitura de Salvador é que organiza o Carnaval: "Quem quiser fazer este trabalho pode se candidatar ao cargo, em 2020".


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