Folha de S. Paulo


'Sou querido porque não faço fofoca', diz blogueiro Hugo Gloss

Em sua primeira entrevista de emprego, em uma editora de Brasília, Bruno Rocha, ou Hugo Gloss, como é conhecido por mais de 13 milhões de seguidores nas redes sociais, foi perguntado sobre onde se via no prazo de dez anos. Não titubeou: "Em Hollywood", respondeu.

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Ainda que não more em Los Angeles, o jornalista e blogueiro de 30 anos chegou o mais perto que conseguiu de um análogo tupiniquim para seu sonho: vive em um bairro nobre do Rio de Janeiro, é amigo íntimo de atores da Globo e já entrevistou diversas celebridades internacionais.

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"Minha amiga, na época, me disse: 'Nossa, que pessoa louca que responde isso numa entrevista [risos]'? Mas é o que eu sempre falei que queria fazer", diz à repórter Marcela Paes, enquanto se prepara para uma sessão de fotos em um hotel de luxo em SP, onde sempre se hospeda.

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Compromissos do tipo tornaram-se normais para Bruno. Ele nasceu em uma família de servidores públicos da capital federal e começou a carreira de blogueiro em 2006 usando o Twitter para fazer comentários sobre famosos.

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Bem-humoradas, as tiradas do blogueiro, que na época usava o nome do personagem Christian Pior (vivido por Evandro Santo no "Programa Pânico"), chamaram a atenção de gente como Luciano Huck e Claudia Leitte. Sem conhecê-lo pessoalmente, a cantora chegou a enviar uma van particular para que ele fosse a um de seus shows.

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"A chefia me via o tempo todo na internet. E um dia me falaram: "Acho que você fica tempo demais na internet". Minha resposta foi: "Olha, e eu vou continuar. Porque eu não consigo ficar oito horas dentro de uma sala sem saber o que tá acontecendo no mundo. É pior do que dar um tiro na minha cabeça", diz Hugo, que recentemente também se tornou apresentador do programa "Ridículos", da MTV.

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Percebeu que a brincadeira tinha se tornado séria quando foi chamado para de um quadro do "Caldeirão do Huck", um de seus programas preferidos. "Na época, eu morava em Barcelona, fazendo mestrado. Comprei minha passagem por R$ 689, que achei caríssimo. Surgiu essa conversa de voltar para ser jurado de um quadro. Fiquei com o olho cheio d'água e falei: 'Acho que não quero não'."

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"A Dany Bananinha [assistente de palco da atração] conversava comigo no Twitter e disse: 'Não, Luciano, ele não quer ser jurado. Ele quer trabalhar aqui.' Aí eu acabei sendo redator do Caldeirão por seis anos", afirma. Saiu quando o personagem Hugo Gloss começou a ganhar mais projeção e o trabalho se tornou inconciliável.

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"As redes sociais não eram o que são hoje. Era novidade e ninguém entendia muito bem. Eu falava: 'eles têm o Bruno e poderiam ter o Hugo Gloss, mas não usam pra nada.'". Diz que às vezes a emissora o via como inimigo. E pensava: "Mas eu estou aqui. Me manda pros bastidores da novela! Hoje a comunicação do Hugo Gloss com a Globo é muito melhor do que quando eu era funcionário".

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Gloss abre o armário da suíte para trocar o figurino do ensaio, em que usa suas próprias roupas: jaquetas da marca francesa Balmain (que custam a partir de R$ 7.000), calças jeans rasgadas e chapéus (por causa de uma calvície precoce). "Mas eu também uso coisas baratas. A calça que eu estou usando é nacional!", diz ele, que afirma cobrar cerca de R$ 15 mil por postagem publicitária.

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Hugo retoma as caras e bocas que faz para as fotos –e para os vídeos e retratos que posta incessantemente em seu Snapchat e Instagram. "Agora eu vejo como a [modelo inglesa] Naomi Campbell sofre. Estou suuuper natural sentado em cima dessa privada fazendo carão", brinca.

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Na narrativa contada nas fotos da sessão, o blogueiro retorna de ressaca de uma noitada. Apesar da frequência com que vai a eventos, ele afirma sempre colocar o trabalho em primeiro lugar. "Quando estive no Oscar, por exemplo, foi surreal, mas só depois. Na hora, eu estou muito na adrenalina e muito focado no meu trabalho. Depois baixa e eu começo a entender o que aconteceu. Muitas vezes eu volto chorando: meu deus, eu tava no Oscar [imita choro]".

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Segundo Hugo, a discrição nas festas é fundamental. Para ele, que afirma não ser "jornalista de fofoca", não interessa contar quem fez o que e com quem. Um exemplo disso foi seu último aniversário, em que reuniu Bruno Gagliasso, Tatá Werneck, Thaila Ayala e Susana Vieira, entre outros. Em seu raciocínio, a boca fechada "para coisas negativas, que não levam a nada", é o que o diferencia de outros jornalistas do meio.

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"Minha mãe sempre falou que eu tinha muita empatia. Ela reforçava: tenta se colocar no lugar da pessoa. Quando eu conheci a [atriz] Carolina Dieckmann, ela veio e me abraçou falando: 'Nossa, adoro você e seus comentários da novela, é muito engraçado'."

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"E é porque era um comentário da novela. Não era eu falando: 'Carolina Dieckmann, seu cabelo está cagado!' Era tipo: 'Ai, Edwirges é a santa da novela e não quer dar pra ninguém'. Se eu encontrar alguém bêbado numa festa também não vou comentar. Provavelmente porque eu vou estar também [risos]!"


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