Folha de S. Paulo


'Beleza de Dilma me impactou' diz argentino que a fez perder 15 kg

Máximo Ravenna, 68, o argentino que virou guru de Dilma Rousseff e de boa parte dos ministros do governo dela, está no Brasil para visitar a sua rede de clínicas de emagrecimento. Sentado numa mesa, encara a plateia de 120 pacientes paulistas que, numa tarde ensolarada de quarta-feira, buscam, angustiadas, respostas do médico para conseguir emagrecer.

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"Eu fico com medo", diz uma delas. "Tirei um transtorno do meu corpo e posso ter colocado outros. Perdi meu pai e dois cachorros. Adotei outro cachorro. Ele era faminto. E agora eu me vejo como ele. Passei a guardar comida, como sobrevivência."

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Ravenna, que é clínico geral e psicanalista, pergunta: "Você é casada?". Sim, e tem filhos. "Você tem que falar a você mesma: basta! Basta de caprichos! Você está no deserto e quer um Toblerone [as outras pacientes dão risada]? Não, não há, não tem como."

Os relatos se multiplicam. "Eu estou aqui há um mês, perdi 10 kg. Mas é difícil. Vejo comida e tenho desejo", desabafa uma paciente. "Tem que colocar o desejo em outro lado", diz Ravenna. "Eu voltei a engordar. Foi doído, vergonhoso", relata outra. "Você tem que pensar: 'Ui, que gorda eu sou!' E seguir, com energia", aconselha o médico. Outra, já avó, descreve os "sacrifícios". "Sacrifício é ser gorda", rebate o doutor.

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As reuniões de obesos, em que as experiências do emagrecimento são compartilhadas, são "centrais" no tratamento, segundo Ravenna. "É único, único. É como os [encontros] de drogados ou de alcoólicos. Você já viu um alcoólatra ser curado por um psiquiatra? O psiquiatra vira alcoólatra e não cura ninguém", afirma. "Num grupo ou numa comunidade terapêutica, sim, a pessoa vai ver que a outra pôde [emagrecer]. Se ela pode, eu posso."

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"Eu não trabalho com ninguém sem isso", decreta. "Salvo se for um 'hipervip'."

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Dilma é uma 'hipervip'. Periodicamente, um médico, uma nutricionista e um preparador físico vão ao Palácio da Alvorada, em Brasília, monitorar a dieta da petista. A clínica oferece um kit de refeições. Mas, no caso dela, os cozinheiros da presidência foram treinados para fazer as mesmas receitas. Dilma segue o ritual do método à risca. Antes de cada refeição, toma um caldo bem quente, para forrar o estômago e diminuir o apetite. Depois, come pratos sem farinha e açúcar (com 40% de carboidrato, 30% de proteínas e 30% de gorduras), ingerindo no máximo 800 calorias por dia.

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*Recentemente,* o médico viajou de Buenos Aires, onde vive, a Brasília para jantar com ela no Palácio da Alvorada. Comeram salada, bacalhau diet (sem batata) e banana feita no micro-ondas. Conversaram por cinco horas.

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"Disse a ela que não caísse em cantos de sereia, de que, por ser presidenta, teria que comer ou pesar um pouco mais. E disse que ela merecia pesar menos do que 70 kg, porque é uma mulher muito bonita. A mim me impactou o linda que é."

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Dilma revelou que, quando jovem, chegou a pesar 63 kg. "Ela gosta desse número. Eu falei: 'Jogue-se. Você pode'. Não há motivo para associar idade com indefectível tendência de engordar. Temos que fazer mais ginástica e comer alimentos de qualidade."

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No dia do jantar, Dilma, em tratamento desde dezembro, já tinha emagrecido 8 kg. Agora, já baixou 15 kg. "Ela tem 1,68m. Pode tranquilamente chegar a 66 kg." Pela estimativa do médico, a presidente está hoje com 69 kg.

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"Sempre é melhor pesar menos que 70 kg. Porque dos 70 kg aos 80 kg é um suspiro. Já dos 69 kg aos 70 kg, é toda uma vida" afirma. "Eu sempre digo: mulheres normais pesam 50, 60 kg. As altas,
70 kg. As de 80 kg, 90 kg são enormes ou muito gordas".

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Ravenna e a presidente falaram ainda "de Obama, dos EUA, da China. Eu estava emocionadíssimo. Dilma é muito culta". Falaram também da presidente argentina, Cristina Kirchner. "Eu me reservo [a não revelar o que disse]. Coincidimos em uma opinião. Ponto." Ravenna não gosta do governo de Kirchner.

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Dilma foi apresentada ao método Ravenna pela ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Mulher. "Quando viu sua gente baixar de peso, Dilma quis isso para ela", diz ele. "Uma pessoa que consegue controlar a alimentação e mostrar um corpo cuidado transmite confiança às pessoas." Entre os ministros que fazem dieta estão José Eduardo Cardozo (Justiça) e Kátia Abreu (Agricultura).

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Eleonora perdeu 17 kg. E carrega o kit de refeições de Ravenna de um lado para o outro, até em viagens. "Antes, ela levava a sua gordura para todos os lados. Agora, leva um protetor, a comida, porque ainda não confia nela mesma", diz Ravenna. "Mas isso é temporário", segue. "Lutamos contra a sociedade, a genética, a estrutura emocional, a mediocridade."

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Há 50 anos, diz o médico, "havia 10% de gordos no mundo. Hoje são 50%. Algo se passou no entorno desse gordo. A sociedade mudou. Hoje há o estresse crônico, o mal dormir, o imediatismo, a impulsividade. E uma quantidade enorme de comidas processadas. A frutose, que é tóxica, hiperdoce e viciante, invadiu todos os alimentos".

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*De cara,* o paciente da clínica Ravenna (que alguns especialistas dizem apenas empacotar de forma nova uma dieta já consagrada) tem que cortar, de forma radical, "as farinhas, os açúcares, a frutose, todos os alimentos muito gostosos que estimulam a insulina, que é o hormônio da fome". O problema, diz, "não são os estômagos vazios, mas sim aqueles cheios de comidas compulsivas".

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"Se eu comi chocolate, ou alguma coisa de que eu gosto muito, fica na minha memória. Hoje se sabe que a obesidade é um problema neuroquímico, do cérebro". Seria preciso, portanto, cortar a dependência, até que a pessoa se acostume com "uma comida neutra, tão agradável quanto a tua irmã mas nunca tão excitante como a tua amante". O corpo queima gordura, que "libera ácidos que chegam ao hipotálamo e bloqueiam a fome". A pessoa emagrece. E rápido. Duro é manter a cintura fina.

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O médico já disse que gordo em dieta é como drogado em abstinência: está sempre pronto a voltar ao vício. Por isso, ele recomenda que a pessoa frequente a clínica todos os dias, inclusive aos sábados e domingos. "O fim de semana é uma fábrica de gordos." O micro-ondas também é "uma fábrica de gordos".

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A grande conquista é ter conhecimento e permanecer alerta. Admite que boa parte não consegue o resultado desejado, ou desiste no caminho. "A maioria das pessoas, conversando, fazendo coisas, pede uma porção de pizza, depois outra. Um pão de queijo, outro, até comer 24! Um dos problemas é a distração. O outro é que o prazer chega rápido, e a gordura, devagar."

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Ravenna, que diz pesar 73 kg e usar o mesmo tamanho de roupa há 25 anos, se define como "intenso". "Em tudo. Muito." Faz ginástica sete vezes por semana, "isométrica, isotônica, pilates, ginástica de força, circuitos rápidos, aeróbicos". Anda de bicicleta. Joga tênis. Já mergulhou na Austrália e no Havaí e com a mulher, Maria Gilda, e as filhas.

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*Neste mês,* planejava embarcar para um passeio chamado "desafio Porshe": dirigir um carro da marca pela Côte D'Azur, na França, por uma semana, passando por cidades como Nice, Montecarlo e Cannes. "É uma adrenalina, uma emoção", diz.

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Ravenna abriu a primeira clínica em Buenos Aires em 1993 (hoje tem nove, além de filiais no Paraguai e no Brasil), depois de trabalhar por quase duas décadas em um spa nos arredores da capital argentina. Em alguns anos, atraiu celebridades como a apresentadora de TV argentina Susana Giménez e Maradona. De "alguns", não cobra nada. "Eu intuo quem vai se ofender. Não cobro de gente do espetáculo, por exemplo, nem de jornalistas."

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*"A Dilma paga",* apressa-se a dizer Moema Soares, sua sócia no Brasil. "Ela paga?", surpreende-se o médico argentino. A clínica cobra mensalidade de R$ 2.150.


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