Folha de S. Paulo


'Nossa bandeira jamais será vermelha', diz grupo de Ana Setubal na Paulista

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"Tem até mulher de banqueiro aqui!", informava à coluna a educadora Ligia Carvalho no estacionamento da rua Augusta em que vários amigos combinaram de se encontrar para ir à passeata de domingo na avenida Paulista.

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"Ela poderia estar em casa, descansando. Mas pensa nos mais humildes", segue Ligia, referindo-se a Ana Eliza Setubal, mulher de Paulo Setubal, da família que controla o Itaú Unibanco. "Nós temos que pensar neles. A minha empregada me disse que é atendida por enfermeiros nos postos de saúde. Eles não têm escola, saúde, nada."

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Ana Eliza diz que o protesto "não é contra um governo específico" e afirma que "o povo tem que acordar, se mexer. Tem que mostrar aos governantes, todos eles, a insatisfação com essa corrupção que está arraigada no país".

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Ao lado da empresária Rosângela Lyra, ela logo assume a liderança do grupo, que sobe a rua Augusta cantando: "A nossa bandeira jamais será vermelha!".

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A arquiteta Brunete Fraccaroli carrega um banco de plástico verde. Ela vai se submeter em breve a uma cirurgia de coluna e precisa sentar-se de tempos em tempos. "Estou perdendo clientes. Muitos deles estão saindo do Brasil, estão indo para Miami. É triste. Estou muito preocupada", diz.

Em frente ao Masp, outro grupo se reunia numa varanda. "Queria estar era lá embaixo", dizia a empresária Tatianna Oliva, apontando para a avenida. "Já fomos lá, mas tivemos que voltar por causa das crianças", explicava, com as duas filhas ao lado.

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Acompanhada do marido, José Victor Oliva, ela assistia de camarote ao protesto, a convite de uma amiga que abriu o escritório de sua empresa a cerca de 40 convidados. Para recebê-los, mesa de aperitivos e doces decorada com bandeirinhas do Brasil, refrigerantes, cervejas e drinques. A anfitriã pediu para não ter o nome divulgado ("Senão baixam 50 fiscais da Receita aqui! Sou do bem").

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"A Déia, que trabalha lá em casa, disse que queria vir. Eu não forcei ela a nada", contava Tatianna. Ao lado da patroa, Andrea Carneiro dizia: "A gasolina tá muito cara, o ônibus, o supermercado também. Tá muito ruim".

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Irmã do playboy Chiquinho Scarpa, Renata Scarpa ia do parapeito do prédio para a TV, que transmitia o ato ao vivo. "Graças a Deus", repetia. "E é todo mundo! As mulheres [vieram] mesmo com chuva no cabelo." Ali perto, o marido dela, Marcelo Palhares, fumava um charuto.

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Renata dizia: "Não interessa se é PT, PSDB, PMDB. Acho que todos os políticos e suas famílias teriam que ser obrigados a usar hospital e escola públicos. Já mudaria tudo". E lembrava o fato de Miami estar "lotada" de brasileiros. "Temos que ter todo mundo aqui para ajudar. Se os ricos forem embora, o que que sobra? Só os que não interessam para crescer o país."

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"Sou elite sim!", dizia José Victor Oliva. "E acho que eu deveria ser homenageado pelo governo, porque invisto, dou empregos, pago impostos, faço tudo certo." Mostrando a avenida, concluía: "Acho que eu não sou o único que penso assim".

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No prédio ao lado, alguém agitava na janela uma bandeira vermelha. Adultos e crianças na sacada vaiavam: "Ei, petista, vai tomar no c...". Um dos convidados passa com um saquinho distribuindo cornetas de plástico.

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Com a bandeira do Brasil estampada nos brincos –e uma de verdade amarrada nos ombros–, a empresária Norma Kherlakian brincava que iria "tirar todas as peças vermelhas do armário". "Eu sempre soube que o PT, quando chegasse lá, ia roubar", afirmava a prima de Reinaldo Kherlakian, herdeiro da galeria Pagé e cantor.

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Nadia Locanto, consulesa de São Cristovão e Nevis (ilhas no Caribe), dizia: "Tem que sair o PT. E parar a corrupção. Não é possível que não haja gente honesta no Brasil, né?", dizia, com a bolsa Louis Vuitton a tiracolo.

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Já no fim da tarde, o empresário Paulo Velloso chegava. "Já andei duas vezes a Paulista. Subi para vir ao banheiro." Dizendo-se emocionado, afirmava, com um copo de margarita na mão: "Falam que SP é um reduto do PSDB. Não é isso! É que aqui as pessoas têm mais conhecimento, informação. Sabem que do jeito que está não dá pra continuar".

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ETERNA VIGILÂNCIA
A Secretaria da Segurança Pública de SP deve baixar nesta semana uma resolução para tentar diminuir a letalidade da polícia. Ela prevê que, todas as vezes que um policial matar uma pessoa, a cena seja preservada até a chegada do comandante da área da ocorrência, de um delegado, de um integrante da corregedoria da corporação e também de um promotor.

VIGILÂNCIA 2
As mortes por intervenção policial chegaram a 364 no Estado em 2013.

CALIBRE
Presidente da Frente Parlamentar de Segurança Pública, o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) diz não sentir "nenhum constrangimento" por ter sido condenado por porte ilegal de arma. Ele nega ser dono do revólver e afirma que ele foi "plantado". Com a sua eleição, o caso foi para o STF (Supremo Tribunal Federal). "Me incomodaria se fosse por corrupção." Fraga é colecionador e diz ter 40 armas legalizadas.

CALIBRE 2
Na frente de segurança (que "maldosamente chamam de bancada da bala, mas é a bancada da vida, que quer salvar pessoas", diz), o deputado e militar da reserva quer priorizar a discussão sobre maioridade penal e o projeto que torna crime hediondo execução de policiais.

REFUNDAÇÃO
A gestão do governador Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão cortou 12 dos 47 funcionários que trabalhavam na Fundação Sarney.

REFUNDAÇÃO 2
Os servidores foram deslocados da Fundação da Memória Republicana Brasileira –nome oficial da entidade que administra o acervo do ex-presidente– para o Instituto de Terras e para o programa Mais IDH, da Secretaria de Direitos Humanos. Agora, os 35 funcionários vão também pesquisar e guardar documentos de outras personalidades além dos membros da família Sarney.

NA MENTE
Os procuradores da Operação Lava Jato têm insistido em perguntas sobre a empreiteira Odebrecht nos depoimentos que colheram de delatores do esquema nas últimas semanas.

NA MENTE 2
Até agora, já foram expedidos mandados de busca e apreensão contra a Odebrecht, mas nenhum diretor da empresa foi preso e nenhuma acusação formal foi feita à companhia.

CANÇÃO PREFERIDA
Para o repertório dos shows em que vai dividir o palco com Milton Nascimento em São Paulo, a cantora portuguesa Carminho só tem certeza de uma canção: "Cais", composta pelo brasileiro e famosa na interpretação de Elis Regina. O restante das canções das apresentações, nos dias 10 e 11 de abril, no HSBC, será decidido uma semana antes, quando ela desembarcar no país.

CURTO-CIRCUITO

Helena Mottin faz coquetel para lançar coleção, nesta terça (17), a partir das 13h, nos Jardins.

"Quem? Entre Muros e Pontes", filme de Cacau Rhoden, tem estreia nesta terça (17), às 21h, na Cinesala.

Julia Petit lança nesta terça (17) linha de maquiagem para a M.A.C.

Cau Chocolates e Rosa dos Ventos fazem evento beneficente de Páscoa, nesta terça (17), das 11h às 18h, na Vila Olímpia.

O Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável é nesta terça (17), no Butantã.

com JOELMIR TAVARES, MARCELA PAES e LETÍCIA MORI


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