Folha de S. Paulo


'Crise em Salvador? Tá tudo cheio, tudo lotado', diz Carlinhos Brown

O Carnaval de Salvador se tornou célebre por arrastar às ruas multidões que seguiam suas maiores estrelas. Mas agora é comum ver cantoras como Ivete Sangalo, por exemplo, reservarem alguns dias para shows fechados em camarotes cujo ingresso chega a R$ 820 (ver texto abaixo).

*

Carlinhos Brown também canta em camarotes comerciais. Mas reserva parte dos dias da folia para levar às ruas o seu Camarote Andante, num trio elétrico.

*

Além do camarote de Brown, também o Expresso 2222, de Flora e Gilberto Gil, mantém a tradição de não cobrar ingressos de convidados. Brown falou à coluna.

*

Folha - Estrelas do Carnaval passaram a preferir, em alguns dias, cantar em camarotes, abandonando as ruas. Como vê esse movimento?
Carlinhos Brown - Os camarotes já foram muito questionados [em Salvador]. Todas as discussões sobre esse assunto já foram feitas. E agora não tem mais muito isso. Nós [artistas] vamos onde estão as pessoas, onde está o interesse por nós.

As cordas que separam foliões pagantes, em geral turistas do sul do Brasil, dos menos abastados também foram muito questionadas.
Houve uma migração dos clubes [que eram elitistas] para as ruas [no século passado]. E aí surgiram as cordas [para separar os foliões pagantes da multidão]. Os trios elétricos [que tinham cordas e cobravam] ocuparam o espaço da rua. O Carnaval democrático ficou espremido. Foi em demasia.

E houve um recuo em relação ao uso de cordas.
Discutiu-se que os blocos deveriam não apenas ocupar os sete dias do Carnaval como negócio, mas também oferecer os seus artistas para que todas as pessoas pudessem vê-los. O que nós queremos é democratizar tudo.

Mas é isso o que ocorre hoje em dia na Bahia?
O Carnaval de Salvador termina sendo um dos mais profissionalizados em termos de estrutura. Hoje você tem camarote que te oferece helicóptero para chegar nele.
Não somos críticos desse segmento. Nós estamos dizendo apenas que há outras maneiras de se fazer. Não há desejo de embate ou confrontação. O Camarote Andante e o Camarote 2222 oferecem [convites] de graça. Mas nada é de graça. Tem alguém pagando.

Os patrocinadores.
É claro. E se há uma coisa que a Bahia tem é maturidade com marcas. O circuito da Barra [onde passam trios] é todo da [cervejaria] Schin [só ela pode vender a bebida nas ruas]. Amadurecemos a linguagem dos "sponsors" [patrocinadores].

Há um renascimento dos Carnavais de rua do Rio e de SP. Isso afeta o Carnaval de Salvador, já que boa parte dos turistas que vinham para cá eram dessas cidades?
Ao contrário. Quando a gente empresta o trio para o Rio e para São Paulo, é Salvador nas ruas dessas cidades. A única coisa de que nos ressentimos é não sermos reconhecidos muitas vezes como o lugar em que nasceu o Brasil. E em que nasceu o trio elétrico também. Nós aqui pegamos o Lamartine Babo, a Carmen Miranda, o Adoniran Barbosa, africanizamos tudo e estamos devolvendo isso para o mundo. O sertanejo está africanizado!

Você não teme então um esvaziamento do Carnaval de Salvador?
Não existe Carnaval do Rio, do Recife, de Salvador. Existe o Carnaval do Brasil. E eu fico impressionado com as pessoas falando de crise. Aqui na Bahia é "cria-se". Tá tudo cheio, tá tudo lotado.

-

FAMOSOS TIETAM, 'PIPOCAS' FICAM NA VONTADE

A chegada de Ivete Sangalo ao camarote da Schin, em Salvador, como de costume, foi no estilo apoteose. Fotógrafos e fãs se acotovelavam, levando de quebra alguns empurrões de seguranças, na quinta (12) à noite. A cantora veio num vestido transparente, logo trocado por outro cor de rosa –nem por isso mais comportado.

*

Famosos aglomeraram-se na porta do camarim para conseguir alguns parcos minutos com a cantora. O estilista Dudu Bertholini foi um deles. Chegou a discutir com seguranças para entrar. Voltou satisfeito: "Vim tietar Ivete".

*

O camarote da Schin teve uma novidade: a varanda musical –um palco voltado para a rua, democratizando os shows com o público que não pôde pagar R$ 820 por um ingresso.

*

Do lado de fora, fãs de Ivete, principal estrela da noite, amontoavam-se na esperança de vê-la. Ficaram na vontade: o show foi exclusivo para o público do camarote, num palco no terceiro subsolo.

*

Como consolo, os "pipocas" relembraram antigos sucessos do axé com Márcia Freire, ex-Cheiro de Amor, com direito a dueto com Durval Lélys, que passava pela avenida.

*

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), não desgrudou dos executivos da Schin. Não por menos: a cervejaria, pelo segundo ano consecutivo, investiu R$ 10 milhões no Carnaval baiano em troca de exclusividade no circuito Barra-Ondina.

*

Neste ano, ao que parece, a guerra das cervejas deve ser menos intensa. A Ambev não repetiu a estratégia de derrubar o preço de suas latinhas, que só podem ser vendidas no entorno dos circuitos.

*

Mas as marcas da gigante cervejeira seguem intrusas na festa baiana: em dois dias, 8.000 latas foram apreendidas nas zonas de exclusividade da Schin e da Itaipava.

*

Outdoors espalhados por Salvador revelam o que está por trás do recorrente bordão "Se agite!" de Carlinhos Brown no programa "The Voice", da TV Globo: é uma marca de energético, cuja campanha é estrelada pelo cantor (ver entrevista acima). (JOÃO PEDRO PITOMBO)

com JOELMIR TAVARES, MARCELA PAES e LETÍCIA MORI


Endereço da página:

Links no texto: