Folha de S. Paulo


De 'panicat' a ex-modelo, candidatos sonham em ser repórter de Amaury Jr.

Em Belém do Pará há alguns dias para gravações de seu programa, Amaury Jr., 64, não passou ileso. "Três pessoas foram atrás de mim no hotel." E não queriam ser entrevistadas por ele, mas pedir emprego de repórter em seu programa na RedeTV!. "São uns 60 contatos do tipo por mês. Não dou conta."

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"A pessoa traz DVD pronto, faz gravação caseira. Ou já é de uma televisão de Apucarana [PR], de não sei onde, e baixa aqui", diz ele ao repórter Joelmir Tavares. Semanas atrás, com a notícia de que o apresentador iria reformular sua atração e procurar novos colaboradores, sua caixa de e-mails ficou abarrotada. "Todo mundo se acha legal. Outro dia veio até uma 'panicat'", conta, em sua produtora, nos Jardins.

De gostosona assistente de palco do "Pânico" a atrizes iniciantes na carreira e jornalistas recém-formados, a lista de candidatos a "amauryzete" –como o apresentador chama quem divide o microfone com ele– é longa e variada.

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"É um sonho", define Evelyn Montesano, 30, uma das que mandaram currículo. A atriz, de Niterói (RJ), que diz ter sido convidada para posar nua em uma revista, enviou junto vídeos do "Na Contramão", programa com ar de produção caseira que comanda no YouTube. Lá entrevistou gente como a modelo Cristina Mortágua, recém-eliminada de "A Fazenda", e Carla Prata, ex-bailarina do "Domingão do Faustão".

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Dizendo-se "frequentadora do Copacabana Palace", Evelyn conta que para ela "seria natural" trabalhar com Amaury, que em 35 anos no ar fez fama com a cobertura de festas de ricos e famosos. "Minha mãe é advogada de várias pessoas da alta sociedade carioca. Conheço muita gente desse meio."

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Por exemplo: "Maninha Barbosa, casada com o filho do Chacrinha... Ana Paula Barbosa, neta do Chacrinha... A blogueira Dandynha Barbosa, outra neta do Chacrinha".

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"Como dizia Chacrinha, na TV nada se cria, tudo se copia", afirma Rodrigo Assis, 29, outro aspirante ao posto, que vê Amaury como "uma forte referência" para seu trabalho. Assim como Evelyn e outros tantos candidatos, o jornalista carioca posta na internet vídeos em que conversa com personalidades. No programa "Papeando", já falou com a atriz Isabel Fillardis, o funkeiro MC Marcinho e (de novo ela) a dançarina Carla Prata.

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Parte da minoria masculina que tenta um lugar ao sol, Assis acha que "tem espaço para homem sim". Na equipe atual de Amaury em São Paulo, são três mulheres –Rebeca Grisi, Denise Severo e Carol Scaff– e um homem –Caio Fischer. No Rio, André Ramos e Bruno Chateaubriand.

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Durante uma entrevista de Chateaubriand com Susana Vieira, em agosto, a fila de emprego "cresceu". Em tom de piada, a veterana atriz da TV Globo sugeriu que "um dia" poderia virar repórter da atração: "Se nada mais der certo na minha carreira...", disparou ela, às gargalhadas. A declaração virou notícia em jornais e sites.

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Amaury entrou na brincadeira e respondeu que Susana "está num ponto da carreira em que pode falar o que quiser com habeas corpus". "Só não sei se teria dinheiro para pagar o salário dela." Pelas projeções do mercado, a atriz ganha R$ 100 mil quando está no ar em uma novela.

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Já um repórter da atração da RedeTV! recebe R$ 10 mil mensais. Com o percentual das coberturas comerciais, o faturamento pode alcançar R$ 20 mil. Os "infomercials" (quando uma empresa compra espaço) existem no programa, "mas não chegam a 10%" do conteúdo, segundo o titular. "Gostaria que fosse 60%. Falo a verdade, pô. Não sou hipócrita. Tenho quase 50 pessoas trabalhando."

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Dinheiro nem sempre é o que buscam os candidatos. Eles costumam evocar clichês como "oportunidade de aprendizado". Pesam também as chances de circular por ambientes de suposto luxo e, claro, de estar na TV.

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Deslumbrados, porém, são logo espantados. "Não quero repórter que você fale 'ó, hoje tem gravação' e a pessoa vai correndo para o salão de beleza. Quero gente que participe da pauta." E que seja informada, tenha "luz" ("a câmera precisa gostar da pessoa, e vice-versa") e bom vocabulário: "Uma repórter chegava a usar 18 'maravilhosos' em um minuto e meio. Não dava, pô", diz ele.

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E mais: "Tem que pegar o microfone com firmeza. Aviso: 'Segura como se fosse um falo!'", explica, aos risos. "Se tiver beleza, melhor ainda. Infortunadamente, para a televisão ser bonito é fundamental. Se você bota uma repórter feia, cai em desgraça."

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A modelo Carol Scaff, 29, é a que por último preencheu todos os requisitos. Entrou em setembro. "É chato falar de si mesma, mas sou bonita, sou elegante. Acho que conta", diz. Com experiências na TV a cabo, ela bateu à porta do apresentador. "Minha mãe sempre me falou que eu tinha a cara de quem trabalha com o Amaury." Conta o que já aprendeu na função: "O objetivo é não fazer uma entrevista rasa, de dizer só 'ai, que linda você está'".

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O patrão diz que o programa "notabiliza" as pessoas da equipe e que "chove" oportunidade de trabalho para elas. "Todas que passaram por aqui estão bem", gaba-se. "Fora as que se casaram. Imagina o que essas meninas recebem de propostas. É descarado. Os caras ligam para mim!"

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A lista de antigos repórteres inclui Caroline Bittencourt, Maria Cândida, Laura Wie, Vera Viel e MariMoon –a ex-VJ da MTV ficou de maio a outubro deste ano. Duas "amauryzetes" saíram direto para "reality shows" da concorrência: Maria João Abujamra participou de "A Fazenda", da Record, em 2009, e Val Marchiori fez "Mulheres Ricas", na Band, em 2012.

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Val, hoje no SBT, "nem sabia pegar no microfone" quando foi descoberta por Amaury, em 2008. "Ele disse para eu sempre ser eu mesma. Falava: 'Tem fila de repórteres engessadas na minha porta! Não quero isso'", recorda. Ela, que "tomava uma tacinha de champanhe para ficar menos nervosa", pergunta-se: "Quem não quer estar em festas glamorosas e na TV?". E emenda seu bordão: "Heeellooo?!".

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Em janeiro, Amaury estreia novos quadros na atração, que vai ao ar de terça a sábado e dá dois pontos no Ibope –cada ponto representa 65 mil domicílios na Grande SP. A equipe também deve crescer. "Por mim, teria 20 repórteres. Mas sou muito rigoroso para aprovar. Afinal, é meu 'business', meu nome."

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Pode ser, então, que haja esperança para Marcia Boscardin. A ex-modelo, idade não revelada, já fez testes e costuma mandar e-mails à produção. "Cobri alguns eventos quando o Amaury estava mudando de emissora [da Record para a RedeTV!, em 2002]", lembra. "Mas não foi adiante", desconversa.

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Marcia "gostaria muito" de tentar de novo. "Uma vez encontrei ele num evento, falei [sobre ser repórter], mas é difícil, porque ele viaja muito... Depois desencanei", diz. Enquanto isso, dedica-se a seu blog, o "Estilo Fashion". Publica fotos suas em eventos e –a exemplo de outros tantos candidatos– vídeos em que é entrevistadora.

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No fim da conversa com a coluna, não deixa passar a chance: "Fala pra ele me encaixar num quadro novo [risos]. Preciso aproveitar a oportunidade, né?! Manda um abração para ele. Adoro ele".


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