Folha de S. Paulo


Tensões e incertezas podem dificultar sono tranquilo

mrpbps/Flickr
A insônia se espalha por diversos momentos da vida
A insônia se espalha por diversos momentos da vida

Alguns estudiosos afirmam que a insônia atinge cerca de 40% dos brasileiros. Em tempos de crises, quando o estresse, a ansiedade e a depressão aumentam, este número pode chegar a 50%. O Brasil já foi chamado de "Nação Rivotril" por ser o maior consumidor deste ansiolítico.

Eu tenho muitos medos e fantasmas que me assustam, principalmente na hora de dormir. Até os meus dez anos só conseguia dormir abraçada com a minha mãe. Hoje, como são inúmeras as minhas noites de insônia, adquiri o hábito de escrever nas madrugadas.

Não gosto de tomar calmante, e, por isso, minhas insônias frequentes parecem verdadeiras sessões de tortura. Sou professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro há mais de 23 anos e, até hoje, sinto inveja daqueles que conseguem ter um sono tranquilo antes de uma aula.

O pior é que a insônia não é apenas antes de uma aula ou palestra. Quando estou exausta e precisando dormir, fico matutando: naquela hora eu poderia ter respondido assim; eu deveria ter citado aquele autor; não lembrei daquele dado da minha pesquisa. E, para piorar ainda mais a situação, nunca consigo me desligar dos gravíssimos problemas do país e do mundo.

Nos fins de semana tento relaxar, mas fico no computador o dia inteiro, muitas vezes até durante a madrugada, lendo notícias em inúmeros jornais e revistas, respondendo e-mails e mensagens do Facebook, preparando aulas e palestras.

Procuro controlar a minha ansiedade, mas ela só diminui um pouco quando consigo concluir a minha infindável lista de tarefas. Minha sorte é que sou muito organizada e nunca deixo para amanhã o que posso fazer agora. Mas a lista não termina nunca, pois sempre tenho novos textos para escrever, aulas e palestras para preparar, e teses para corrigir.

Já tentei de tudo: meditação, respiração, ioga, relaxamento, exercícios, terapias, maracujá, ansiolíticos, não tomar café, não comer antes de dormir, contar carneirinhos...

Muitas mulheres que entrevistei disseram que trocariam facilmente alguns prazeres (como sexo, fazer compras e comer chocolate) por uma boa noite de sono.

Será que alguém consegue dormir tranquilamente em um momento como este, no meio de tantas tensões, incertezas e crises políticas e econômicas?


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